Representatividade. Essa é a palavra mais lembrada pelos participantes do Flicadê, festa literária online dedicada à comunidade LGBTQIA+, que acontece até domingo (28), no YouTube, Instagram e Twitter. O evento ocorre no mês do Orgulho LGBT e seu nome faz menção ao perfil Cadê LGBT, que está em diversas redes sociais.
O escritor baiano Deko Lipe, 34 anos, é um dos organizadores da festa literária com a colega mineira Maria Freitas e ressalta sua importância: “Ainda existe uma invisibilização das pessoas LGBTQIA+ na literatura. No máximo, chegamos à letra ‘B’ [bissexuais] da sigla. Precisamos furar bolhas, entrar em determinados ambientes. Então, teremos uma mesa trans e outra para falar sobre corpos não padrão. Nessa segunda mesa, vai-se falar sobre os corpos gordos, que não costumam ser protagonistas”.
Uma das mesas vai debater a literatura trans. A conversa, no sábado, às 20h30, terá presença do escritor Bruno Santana, 32, homem trans negro, pesquisador e autor de artigos acadêmicos. Ele também destaca a importância da representatividade: “Representatividade é poder ser protagonista da sua vivência, da sua história. É ter voz e visibilidade. Não quero que pessoas cis, por exemplo, falem sobre minha vivência trans. O lugar de fala é de quem vivencia”.
Até domingo, serão realizadas nove sessões de debates, sobre outros temas, como a relação entre o mercado editorial e o público LGBTQIA+ e a importância da influência digital para esse grupo.
A escritora Lorena Ribeiro, 28 anos, vai falar sobre a importância da representatividade LGBTQIA+ nos blogs e nas redes sociais. “Costumo participar de debates sobre representatividade negra na literatura, mas pela primeira vez vou participar de uma discussão sobre representatividade LGBT. Sobre as duas questões, penso o mesmo: ambas são uma forma de fortalecer o leitor e de permitir que ele se reconheça num personagem de uma história que lhe agrada e isso é importante para a autoestima”.
Lorena ressalta também que eventos como o Flicadê fortalecem a rede de escritores. Para isso, acontecerão, além dos debates, promoções de livros, lançamentos, e-books gratuitos para download e sorteios. Tudo poderá ser acompanhado no Twitter @cadelgbt e no Instagram @flicade. As mesas serão transmitidas no canal CadêLGBT, no YouTube.
A mineira Cidinha da Silva, 53, autora dos livros Kuami e Um Exu em Nova York, fala sobre a importância do Flicadê acontecer no mês do Orgulho LGBT: “Junho é um momento do ano em que as discussões sobre a LGBTfobia e seus efeitos nefastos são intensificadas e é muito salutar que isso aconteça também na literatura, especialmente na Flicadê, que apresentará ao público abrangente a produção literária polifônica e polissêmica de várias/os de nós”. Cidinha falará sobre a temática LGBT na literatura infantil, no dia 28, às 16h.
Embora os autores participantes do evento façam parte da comunidade LGBT, Deko Lipe afirma que o público não deve se restringir a esse grupo: “Principalmente neste mês, há uma grande busca pelos títulos LGBTQIA+, porque vários instagrams e bolgues falam sobre esse protagonismo. Nós não escrevemos apenas para pessoas LGBT, mas para todos. Eu cresci e vivo num meio onde 98% das pessoas são héteros e elas consomem o que escrevo”.
Flicadê*
Hoje, 25
9h Sarau durante todo o dia. Os interessados publicam em suas próprias redes, marcando #SarauFlicadê no Twitter e @flicade no Instagram. Os textos e vídeos escolhidos serão repu- blicados nos perfis do evento.
Sexta, 26
16h Literatura LGBTQIA+ e o mercado editorial
19h A importância da publicação independente para autores LGBTQIA+
20h30 Corpos não-padrão na narrativa LGBTQIA+
Sábado, 27
16h A importância da influência digital para a literatura LGBTQIA+
19h Da publicação indie até a publicação por editoras
20h30 Literatura Trans e Poesia
Domingo, 28
16h Literatura infantil LGBTQIA+
19h O protagonismo LGBTQIA+ na ficção especulativa
20h30 Escrevivências de mulheres LGBTQIA+
*As mesas são transmitidas no canal CadêLGBT no YouTube. Outros eventos acontecerão no Twitter @cadelgbt e no Instagram @flicade