Com texto inédito escrito por Daniel Arcades, vencedor na categoria de melhor texto do prêmio Braskem de Teatro, o diretor Thiago Romero estreia Desviante, que fica em cartaz nos dias 22, 23, 29 e 30 de setembro, às 19h, no Teatro Gregório de Matos, com ingressos a R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). O espetáculo, que tem números musicais e coreográficos, tem como inspiração os movimentos artísticos e culturais dos anos 60 e 70 e o período de ditadura militar no Brasil.
No ano de 1969, um grupo de artistas performáticos convergentes aos ideais da contracultura começa a ganhar notoriedade nas mídias da época e no circuito mundial das artes. Enquanto subvertem a ordem com extravagantes modos de travestimentos e dialogam com as necessidades de se manterem atuantes na arte brasileira devido a todo o momento de repressão instituído a partir do AI-5, um inesperado convite surge: fazer uma temporada de shows durante seis meses na Europa.
A proposta divide o grupo e instala provocações políticas jamais pensadas naquelas pessoas que até então tinham convicções de que sabiam quais eram os seus ideais. Sair do Brasil em um momento onde é tão necessário ficar e lutar seria fugir da luta ou expandir suas ideias? Com tantos artistas exilados na Europa, seguir como convidado para lá seria uma boa ideia?
O espectador acompanha a noite em que este grupo necessita definir como será o próximo semestre em um momento onde as pessoas não sabiam se estariam vivas nos próximos dias. A ideia do espetáculo é promover um debate entre homossexualidade, teatro e ditadura militar. “Desviante é um espelho que se reflete um passado tão semelhante aos tempos atuais”, declara Romero.
O dramaturgo Daniel Arcades acrescenta que, ao receber o convite de Thiago Romero para escrever o texto, a primeira pergunta que se fez foi: E hoje?. “Desviante é uma história datada, mas que traz uma grande proposta de reflexão sobre o papel de nós artistas nessas revoluções sociais, sobre o que queremos e devemos dizer/fazer. É um chamado para estarmos em constante alerta, que qualquer deslize parece que a história vai se repetir e o quanto perigoso é não cuidar disso. No espetáculo, estamos falando de uma história da década de 1970 que parece ser 2015”.
Romero realça que, Desviante é um olhar no passado histórico para nos trazer ao presente. “Além disso, o espetáculo fala de coletivo, das verdades e lutas de cada indivíduo, das máscaras em um país que constrói essa imagem de liberal, mas que é tão conservador. Fala das ausências de perspectivas, das ilusões perdidas, desse falso sentindo de estar ou pertencer a um coletivo onde o que se quer é impor as individualidades”, descreve o diretor.
Desviante tem como pano de fundo o período da ditadura no Brasil, um período que era invisível as discussões de gênero, ao mesmo tempo que surgiram movimentos e grupos muito importantes para o país como os Dzi Croquettes, o Vivencial e o movimento tropicalista, que eram chamados da “Geração do Desbunde”.
“O desejo era que a peça investigasse e refletisse as complexas relações entre a ditadura militar e a homossexualidade, discutindo a relevância de incluir um recorte LGBT no trabalho de memória e verdade em relação aos crimes da ditadura. Ao mesmo tempo em que tem início a repressão, com a intensificação da prática de torturas e cassações, também emerge um espaço de sociabilidade novo com bares, restaurantes e boates com público exclusivamente LGBT”, explica o diretor, que ganhou o prêmio de melhor espetáculo adulto no Braskem de Teatro de 2016, com o espetáculo Rebola.
Desviante faz parte de uma pesquisa de Thiago Romero em debater a homossexualidade pelo viés do teatro. “Essa pesquisa surgiu em 2014 quando tive contato com o livro Devassos no Paraíso, do João Silvério Trevisan. Na época, estava montando Revelo e naturalmente foi se tornando o gancho do meu trabalho em teatro que seria busca da construção de uma identidade gay em paralelo a uma identidade brasileira que muito tem no livro e assim foi nos espetáculos que criei Revelo, Rebola, Delicado, Anoitecidas”.
Entretanto, Romero acrescenta que o espetáculo inaugura um outro braço da pesquisa, que seria o entendimento dessa identidade gay narrada sob a perspectiva histórica e social, que também já é o norte de um outro trabalho a ser realizado em 2018. “Para a construção do Desviante, me apoiei no livro Ditadura e Homossexualidades – Repressão, Resistência e A Busca da Verdade, do James Green. A peça não é o livro. O livro é o disparador do procedimento de pensar a esfera pública e a história do país, na qual a homossexualidade é vivida nas frestas, nos vãos, nos becos”.
FICHA TÉCNICA
Concepção e Direção: Thiago Romero
Texto: Daniel Arcades
Elenco: Antenor Azevedo, Caique Copque, Douglas Oliveira, Fabio Nascimento, Gleison Richelle, Rafael Brito e Thiago Almasy
Direção Musical: Luciano Salvador Bahia
Operação de Som: Thiago Romero
Coreografia: Elivan Nascimento
Figurino e Cenário: Guilherme Hunder
Maquiagem: Tina Melo
Iluminação: Nando Zambia e Dominique Faislon
Operação de Luz: Luiz Antônio Sena Jr. e Clauber Martins
Projeção: ORUN
Produção: DA GENTE Produções
Coordenação de Produção: Luiz Antônio Sena Jr.
Produção Executiva: Bergson Nunes e Diego Moreno
Design Gráfico: Diego Moreno
Fotos: Diney Araujo
Assessoria de Imprensa: Rafael Brito Pimentel
Duração: 70 minutos