Por José Maria Tomazela Sorocaba, do Estadão ConteúdoÂ
O prefeito reeleito de Lins, Edgar de Souza (PSDB), casou-se no sábado (4), mas, ainda assim, a cidade do interior de São Paulo, não tem o que se convencionou chamar de primeira-dama. Um dos primeiros prefeitos assumidamente gays do Brasil, Souza casou-se com o empresário Alexsandro Luciano Trindade, com quem mantinha união estável há 13 anos.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB), em visita ao interior, passou por Lins na véspera para cumprimentar os noivos. O Diversidade Tucana, segmento de políticas LGBT do PSDB, considerou a união um marco na história do País. A cerimônia ecumênica teve oficiantes de vários credos religiosos: uma ministra católica, um pastor anglicano, uma espírita kardecista e um pai de santo. Os noivos entraram acompanhados pelos pais, familiares, além de pajens e daminhas de honra com as alianças.
O sim teve direito a lágrimas e beijo. A juíza de casamento Aline de Oliveira, expediu a certidão de matrimônio. Fizemos questão desse momento para dizer a todos que nos amamos. Corrupção é feio, lavagem de dinheiro é feio, mas o amor é muito bonito, discursou o prefeito.
Edgar, de 38 anos, e Alex, como seu marido prefere ser chamado, de 35, conheceram-se na adolescência, mas não houve empatia no primeiro encontro. Os dois só se reencontraram depois de adultos. Foi em 2004, quando eu já era vereador reeleito. Seis meses depois, decidimos morar juntos.
O prefeito estreou na política aos 20 anos, em 2000, eleito para o primeiro mandato como vereador. Foram três mandatos consecutivos até 2012, quando foi eleito prefeito. Na campanha, decidiu assumir que era gay. Falei no palanque: eu não tenho que esconder com quem vivo e quem eu amo. Se esconder não mereço ser prefeito de vocês. Ele conta que na campanha foi vítima de ataques homofóbicos. Falavam que a prefeitura seria transformada em boate gay, coisas assim.
Uma semana antes da eleição, os adversários distribuíram uma foto dele com Alex encostado em seu ombro e a frase: Se votar no 45, essa família vai governar a sua. Conforme Edgar, o efeito foi contrário. Muita gente passou para nosso lado, tanto que a gente tinha 42% e fomos eleitos com 53%. A cidade rejeitou a homofobia. Na campanha para a reeleição em 2016, Edgar não enfrentou o mesmo problema. A população já conhecia e aprovava o meu trabalho. Na região, 90% dos prefeitos não se reelegeram, mas fui eleito enfrentando três candidatos.
Católico, Edgar fez questão de convidar o padre da cidade para abençoar o casamento, mas ele se disse impedido. Gostaria de ter podido casar na igreja, pois minha família toda é católica e tenho um irmão que é assessor jurídico do bispo. Em sua atuação como prefeito, Edgar luta para criar na cidade um ambiente sem homofobia. Eu me propus a ter uma vida aberta para que as pessoas pudessem ver que os homossexuais não são diferentes dos heterossexuais.
Na cidade de 75,1 mil habitantes, a maioria das pessoas abordadas pela reportagem aprovou o casamento. O Edgar é bom administrador, disse Júlio Cesar Batista, o ‘Geminho’, de 60 anos. Gostamos dele como prefeito, afirmam os estudantes Giovana Verdeli e Alessandro Paulo Junior, de 17 anos. Para eles, Edgar e Alex têm direito a serem felizes. Faz anos que vivem juntos, acho normal que se casem, disse a dona de casa Maria Luísa Martinho Soares, 64 anos, auxiliar do padre. O apoio, porém, não é unânime. Acho isso uma vergonha. Cada um sabe dos seus atos, mas ele é prefeito, não deveria ser de forma tão escancarada. Isso prejudica a cidade que está precisando atrair empregos. Lins perde credibilidade, criticou o balconista de farmácia Sérgio Luis Santana, de 42 anos.