Por Nilson Marinho*
O corpo que foi encontrado boiando nas primeiras horas da manhã deste domingo (5), no bairro do Rio Vermelho, nas proximidades da Igreja de Sant’Ana e da Casa de Iemanjá, é da travesti Lalesca d’Capory, de 24 anos.
O caso foi registrado pela polícia como afogamento, depois do corpo de Lalesca ser encontrado boiando no mar por pescadores por volta das 4h. Os familiares da jovem, no entanto, após fazer o reconhecimento do corpo na manhã desta terça-feira (7), no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR), verificaram que Lalesca apresentava um corte no pescoço, provavelmente feito por arma branca, o que os levam a crer que se trata de um homicídio.
A travesti, ainda de acordo com os familiares, era muito conhecida no bairro já que todos os dias saia para vender acessórios de celular a visitantes e clientes dos bares e restaurantes das redondezas.
Segundo uma das tias da travesti, a autônoma Hildete Santos, 49, Lalesca morava com a família no Vale das Pedrinhas, mas, há pelo menos três meses, tinha saído de casa para morar com um namorado na Avenida Vasco da Gama.
Embora tivesse uma boa relação com a família, que aceitava sua identidade de gênero, os familiares disseram não conhecer o suposto namorado da jovem. Durante esse período, Lalesca continuava fazendo visitas aos familiares.
Em nenhum desses encontros, conta a tia, ela havia comentado que estava sofrendo ameaças e que teria alguma desavença com o companheiro.
“Nós não sabemos que era esse namorado, mas ele sempre voltava para casa para ver a mãe, os irmãos. A gente não costumava a entrar na vida íntima dela”, disse.
Ainda no domingo pela manhã, horas depois do corpo ser encontrado boiando, um vizinho da família foi avisado por populares do Rio Vermelho, que o corpo, a princípio sem identificação, era de Lalesca. Logo após confirmar a morte, a família procurou a 7ª Delegacia (Rio Vermelho), onde o caso foi tratado com afogamento.
A irmã da jovem, a doméstica Roberta dos Santos, 32, disse que Lalesca pretendia se mudar para outro país e que já estava com o passaporte em mãos havia alguns meses. Uma outra travesti, não identificada pela família, era quem cuidava dos trâmites da mudança. A ela, diz a irmã, Lalesca dava dinheiro para agilizar o processo.
“Não sabemos exatamente o lugar para onde ela se mudaria, Austrália, Nova Iorque, talvez, mas ela pretendia, junto com outras travestis, trabalhar no exterior. A nossa mãe também ajudava muito ela financeiramente para que a viagem acontecesse”, conta.
O tio, o autônomo Gilmar Santos, 47, lembra da sobrinha como sendo uma pessoa tranquila e bastante comunicativa.
“Era uma pessoa do bem, nunca tinha perdido o contato com a família, era comunicativa, e todo mundo gostava. Nós, da família, não tínhamos nenhum problema, não sabemos o que aconteceu”, lamentou.
Lalesca tinha completado 24 anos no dia 27 de julho. O seu sepultamento acontece na tarde desta terça-feira, no Cemitério Municipal de Plataforma, às 14.
De acordo com a Polícia Civil o corpo de Lalesca foi removido na área da 7ª Delegacia, a pedido do Plantão Metropolitano. “Na ocorrência não há descrição de marcas de violência no corpo. Apenas o laudo do Departamento de Polícia Técnica poderá indicar a causa da morte”, afirmou a Polícia, através da assessoria de comunicação.
Segundo agências internacionais, a exemplo da Trans Respect Versus Transphobia World Wide , mais da metade dos homicídios de transexuais do mundo ocorrem no Brasil. Só em 2016, 144 pessoas transexuais e travestis mortas no país.
*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier