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Conheça termos do pajubá, linguagem das travestis que virou questão do Enem

Seguindo uma tendência dos últimos anos a prova deste domingo (4) do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) abordou temas de cunho social. Dentre as 90 perguntas das provas de Ciências Humanas e de Linguagens (45 para cada), foram tratados temas como feminicídio, racismo, ditadura militar, refugiados e até o pajubá, dialeto criado por travestis.

É isso mesmo: o pajubá saiu da rua e foi parar no Enem na prova de linguagens. O assunto era citado para questionar ao estudante seu conhecimento sobre variações linguísticas.

Leia a questão:

“Acuenda o Pajubá: conheça o ‘dialeto secreto’ utilizado por gays e travestis

Com origem no iorubá, linguagem foi adotada por travestis e ganhou a comunidade

Nhaí, amapô! Não faça a loka e pague meu acué, deixe de equê se não eu puxo teu picumã! Entendeu as palavras dessa frase? Se sim, é porque você manja alguma coisa de pajubá, o ‘dialeto secreto’ dos gays e travestis.

Adepto do uso das expressões, mesmo nos ambientes mais formais, um advogado afirma: ‘É claro que eu não vou falar durante uma audiência ou numa reunião, mas na firma, com meus colegas de trabalho, eu falo de ‘acué’ o tempo inteiro’, brinca. ‘A gente tem que ter cuidado de falar outras palavras porque hoje o pessoa já entende, né? Tá na internet, tem até dicionário…”, comenta.

O dicionário a que ele se refere é o Aurélia, a dicionária da língua afiada, lançado no ano de 2006 e escrito pelo jornalista Angelo Vip e por Fred Libi. Na obra, há mais de 1 300 verbetes revelando o significado das palavras do pajubá.

Questão:

Da perspectiva do usuário, o pajubá ganha status de dialeto, caracterizando-se como elemento de patrimônio linguístico, especialmente por:

A: ter mais de mil palavras conhecidas.

B: ter palavras diferentes de uma linguagem secreta.

C: ser consolidado por objetos formais de registro.

D: ser utilizado por advogados em situações formais.

E: ser comum em conversas no ambiente de trabalho. ”

De acordo com professores do Unificado que fizeram o gabarito extraoficial do primeiro dia de provas, a resposta correta para a questão é a letra “C”.

Veja abaixo alguns verbetes retirados de “Aurélia, a Dicionária da Língua Afiada” e aprenda mais sobre o pajubá:

  1. A- art, def, fem.
    No mundo gay, o artigo definido feminino é, em muitos casos, anteposto a substantivos próprios ou comuns do gênero masculino, sendo que, no caso dos comuns, o substantivo ele próprio também passa, se possível, para o feminino. Ex.: A Pedro, A Mário; a prédia; a fota; a relógia; a dicionária.
  2. Irene – adj (RS) – Velho. O termo é pronunciado ireeeeeeeene, como o berro de um cabrito
  3. Jogar o picumã- espr. – Virar a cabeça, mudando os cabelos de lado, tal como as loiras fazem, só que de um modo um pouco mais inteligente e com a intenção de menosprezar ou ignorar alguém.
  4. Picumã (do bajubá)– S.m.  – Peruca, cabeleira, cabelo.
  5. Bafo-Adj. – Termo referente a algo ou alguém que causou alguma coisa. “Ex. Aquela noite foi bafo, bi!”
  6. Jurando– (do v.t.d.i.”jurar”) – Estar pensando ou acreditando no hype; se sentindo (Expressão usada unicamente no gerúndio).
  7. Bicha-bofe-S.f – Homossexual não efeminado, mas nem sempre ativo.
  8. Bofe-S.m – Homem heterossexual ou homossexual ativo.
  9. Aquendar– (do bajubá) V,t,d. e intr – 1-Chamar para prestar atenção, prestar atenção; 2- Fazer alguma função; 3-Pegar, roubar. Forma imperativa e sincompada do verbo: kuein!
Jorge Gauthier
Jorge Gauthier
Jornalista, adora Beyoncé e não abre mão de uma boa fechação! mesalte@redebahahia.com.br

7 Comentários

  1. […] De acordo com Lima, mais do que criar termos que se aproximem de gírias no português, o pajubá reúne também características linguísticas próprias. Isso aparece, por exemplo, na fala. “Há todo um movimento performático do corpo, a tonalidade das palavras e o contexto cultural em que aparecem”, comenta. “Irene”, o mesmo que velho ou velha, por exemplo, costuma ser pronunciado “ireeeeeeeene”, como se fosse um berro. […]

  2. […] De acordo com Lima, mais do que criar termos que se aproximem de gírias no português, o pajubá reúne também características linguísticas próprias. Isso aparece, por exemplo, na fala. “Há todo um movimento performático do corpo, a tonalidade das palavras e o contexto cultural em que aparecem”, comenta. “Irene”, o mesmo que velho ou velha, por exemplo, costuma ser pronunciado “ireeeeeeeene”, como se fosse um berro. […]

  3. […] De acordo com Lima, mais do que criar termos que se aproximem de gírias no português, o pajubá reúne também características linguísticas próprias. Isso aparece, por exemplo, na fala. “Há todo um movimento performático do corpo, a tonalidade das palavras e o contexto cultural em que aparecem”, comenta. “Irene”, o mesmo que velho ou velha, por exemplo, costuma ser pronunciado “ireeeeeeeene”, como se fosse um berro. […]

  4. […] De acordo com Lima, mais do que criar termos que se aproximem de gírias no português, o pajubá reúne também características linguísticas próprias. Isso aparece, por exemplo, na fala. “Há todo um movimento performático do corpo, a tonalidade das palavras e o contexto cultural em que aparecem”, comenta. “Irene”, o mesmo que velho ou velha, por exemplo, costuma ser pronunciado “ireeeeeeeene”, como se fosse um berro. […]

  5. […] pergunta, no entanto, não cobrava dos estudantes o conhecimento sobre o vocabulário dos gays e travestis, mas trazia um texto de apoio sobre o tema e questionava quais as características técnicas para […]

  6. […] pergunta, no entanto, não cobrava dos estudantes o conhecimento sobre o vocabulário dos gays e travestis, mas trazia um texto de apoio sobre o tema e questionava quais as características técnicas para […]

  7. Flavio disse:

    Tantas coisas muito mais importantes para se preocupar, como a estrutura das escolas, a remuneração justa dos professores e merenda é apoio aos alunos, e eles ficam em algo que não tem nada a ver, pois como disse um amigo já, não precisava conhecer o dialeto, apenas interpretar o texto argumentativo que vinha logo a baixo, e saber porque uma linguagem nova ganha status de dialeto. Pqp o Brasil tá ficando insuportável de se viver.

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