Por Gabriel Moura*

 

Subúrbio, por definição, é uma área localizada ao redor de uma cidade. Justamente neste local afastado, uma comunidade também marginalizada pela sociedade, a LGBT+, se reuniu, na tarde deste domingo (1), para lutar pelos seus direitos e mostrar que tem voz na oitava Parada do Orgulho LGBTQIA+ do Subúrbio de Salvador, que arrastou a público entre os bairros de Paripe e Periperi.

Dois trios elétricos animaram os participantes, um comandado por Rainha Loulou e outro por Valerie O’rarah, duas divas da cena LGBT+ de Salvador. Cada um deles também teve uma temática diferente: o que ia atrás levava drag queens, gays e transsexuais, já o que ia na frente, puxando o público, estava repleto de mulheres, pois o tema da parada deste ano foi a visibilidade lésbica e a misoginia dentro do próprio movimento.

“Nós, lésbicas, somos mulheres que não temos holofote e acabamos marginalizadas, até dentro do próprio movimento LGBT+. E, para mostrar nossa voz, estamos trazendo aqui muitas de nós que estamos trabalhando, na correria do dia a dia e dizer que queremos respeito. Nós não somos minorias e não somos invisíveis”, defende Rosy Silva, uma das organizadoras da parada.

Acontecendo desde 2011 e atualmente na sua oitava edição, a Parada do Orgulho LGBTQIA+ do Subúrbio de Salvador já levantou diversas pautas e a cada ano está mais engajada com a comunidade da região. Rosy comemora o sucesso do evento, que gerou uma maior visibilidade da causa na luta para conseguir políticas públicas.

“É através da luta nas ruas que podemos conseguir avanços. E ainda mais nesta região, que é o coração da cidade. Por mais que não estejamos no centro, somos nós, o Subúrbio, que o fazemos funcionar. E, principalmente nesta região, nós, LGBT+, acabamos sofrendo mais, temos mais dificuldade em conseguir empregos, por exemplo. Por isso essa caminhada é tão importante”, afirma Rosy.

*Duplamente marginalizados*
Quem bem sabe como é viver marginalizado tanto por uma questão geográfica quanto por preconceito é a assistente social e lésbica Célia Alves, 55, que sempre morou no Subúrbio de Salvador. Ela defende a tese de que o principal motivo para os LGBT+ sofrerem mais nesta região é a falta de informação.

“As pessoas daqui precisam se conscientizar e internalizar que o fato de eu ser lésbica não muda em nada na minha personalidade. Por exemplo, eu sou Célia, uma mulher que luta pela sua comunidade e trabalha. Não sou apenas uma ‘sapatão’ ou algo assim. A minha sexualidade não é a única coisa que define quem eu sou”, defende.

Em suas 5 décadas no Subúrbio, Célia afirma que não notou nenhuma mudança ou melhoria em relação aos LGBT+ na região. Entretanto, ela não desanima e, a partir de uma experiência familiar bem sucedida, aponta uma alternativa para acabar com o preconceito: o diálogo.

“Paradas como essa são extremamente importantes para mostrar que nós existimos e que estamos lutando por respeito, mas o preconceito só vai acabar de verdade quando o tema começar a ser assunto dentro de casa. Por exemplo, na minha família, através do diálogo com eles, eu consegui acabar com alguns estigmas. Isso precisa acontecer com todos para entenderem que a minha sexualidade não é uma doença, mas uma opção”, afirma.

*Festa*
Como a vida não é feita só de luta, também tinha a galera que estava lá na intenção de curtir. Dentre eles estava o designer de moda Felipe Soares, 23, que veio do Campo Grande, onde mora, para o evento. Acostumado a ir em outras paradas, ele que pela primeira vez esteve na caminhada do Subúrbio, se surpreendeu com a animação do público.

“Nas outras que eu fui, aqui em Salvador mesmo, a galera era mais envolvida na luta, na militância. Aqui tem isso também, mas senti uma animação maior. E não vejo isso como algo negativo, muito pelo contrário. Tem muita gente aqui que não faz parte da comunidade, mas viu a movimentação e se juntou para beber e isso é muito importante. A parada não é apenas para os LGBT+, mas para todos. Quanto mais gente se juntar, mais a nossa voz irá reverberar”, pontua.

É o caso do eletricista Jobson Santos, 41, que ao ouvir o som e ver que tinha cerveja, não pensou duas vezes e chamou os amigos para comer água, só descobrindo do que se tratava quando chegou no local. “Eu estou achando muito divertido. É uma experiência diferente, mas massa. Admito que se soubesse antes do que se tratava, provavelmente não teria vindo, mas me surpreendi e estou aqui curtindo”, conta.

Veja fotos ( por Betto Jr/Correio)

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier

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