‘- Vestido pra menina? Tem esse rosa aqui’.
-‘Não, obrigado. Eu prefiro cores alternativas para meninas. Prefiro verde ou azul. Rosa é muito clichê’.
-‘Ah, tá! O senhor é diferente, né?!”
Nos últimos três anos, todas as vezes que vou a uma loja de roupas infantis comprar algo para minha afilhada tenho esse diálogo como via de regra em qualquer lugar. Sofia, pelas minhas mãos, nunca ganhou um vestido rosa. Realmente, acho muito clichê, especialmente pelas convenções de achar que ‘rosa é cor de menina’ e ‘azul cor de menino’. Sofia até tem roupas rosa e até gosta de usá-las, mas adora os vestidos que o dindo lhe presenteia.
Não sei se no futuro ela mudará de ideia e será uma pink girl, mas a quem isso importa mesmo? Colocar regras sobre a cor da roupa que se usa é tão ultrapassado que todas as vezes que ouço esse tema tenho a sensação de que estou vendo uma novela antiga no Vale a Pena Ver de Novo.
Sempre odiei a regra de ‘ter que’ usar azul somente por ter nascido menino. Graças aos seres celestiais, meus pais pensavam igual a mim. Já na maternidade, saí de branco. Meu berço não era azul. Até tinha roupas azuis quando era pequeno, mas não era condicionado a usar elas assim. Minha babá, Rosa (que odiava usar a cor rosa), adorava me vestir de branco, verde, amarelo e até mesmo de vermelho (para espantar o olhado, como ela dizia).
Sim, eu brincava de bola, era craque de futebol (com bem mostra a foto acima) e…não usava azul com regularidade. Ter ou não ter usado azul não me faria mais ou menos homem. Sofia usar pouco ou muito rosa não fará dela menos ou mais mulher.
Afinal, a quem importa saber a cor da roupa que está sobre minha pele? O que vai interferir na roupa de alguém ter um tecido azul ou rosa no meu corpo? Nossa sociedade está precisando se preocupar com outras prioridades. Até hoje eu só acho equívoco madrinha de casamento usar preto e convidado usar branco. Tirando isso, uso a cor que eu quiser, na hora que me der vontade.
Nesse Réveillon, por exemplo, usei uma bermuda azul. Não ‘fiquei mais homem’ por ter feito isso. A bermuda poderia ter sido rosa e isso não mudaria nada na minha vida nem na vida de quem me viu. No máximo, mudaria a energia de coisas para o ano novo.
Precisamos nos despir dos preconceitos, conceitos e regras que estão encrustadas na nossa sociedade de forma desnecessária. Cor não tem gênero. Uma vez ouvi de uma vendedora, em uma loja, que ‘Jesus não usava rosa’. Confesso que não achei nenhum lugar na bíblia falando do dress code de Jesus. Será que ele poderia ter usado túnica branca? E o looks vermelhos? Jesus pode ou não pode? Ai, gente!
Em vídeo que circulou nesta quarta-feira (2), em redes sociais, a ministra nova da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, afirmou que o Brasil está em “nova era” em que “menino veste azul e menina veste rosa”. Fiquei aqui imaginando agora todo mundo futucando as roupas e vendo se é homem ou é mulher só com essa norma de cores que estão inventando.
Damares é educadora, advogada e foi assessora parlamentar no gabinete do senador Magno Malta (ES), um dos principais aliados do presidente Jair Bolsonaro. Caberá à pasta coordenar as políticas e as diretrizes destinadas à promoção dos direitos humanos. A pasta que está sob o comando de Damares é densa, intensa e complicada. Certamente, ela terá bastante coisa para se ocupar do que indicar as diretrizes de qual cor da roupa mais ‘adequada’ para serem usadas por homens e mulheres.
Infelizmente, nobre ministra, lamento que não poderei seguir as normas de cores dessa era. Meu guarda-roupa é mais colorido do que o arco-íris! Até tenho umas blusinhas completamente azuis, mas acho uma cor tão apagada que não consigo criar empatia por ela. Prefiro cores mais vibrantes. Acho que elas combinam mais com meu tom de pele.
3 Comentários
Homem veste azul e mulher rosa, gay tem de acabar no Brasil… viva Bolsonaro
Com certeza, esse comentário dela foi “UÓ”. Com tantas pautas de alto nível para começar a trabalhar fica nessa de envenenar algumas mentes com essas “normas” e conceitos de mil novecentos e guaraná de rolha!
Corrigindo o nome (corretor que por vezes atrapalha).
Amei seu texto Jorge, claro, crítico e bem colorido!