Com 553 votos, a arquiteta e urbanista Larissa Laranjeira do PCdoB se tornou a primeira candidata lésbica a vencer as eleições na cidade de Poções na Bahia para o cargo de vereadora.
Larissa é feminista, militante política e Secretária das Mulheres/PcdoB de Poções-Bahia. O Me Salte conversou com Larissa; Acompanhe a entrevista:
A Câmara de Vereadores de Poções, historicamente, nunca foi ocupada por mais de duas mulheres no mesmo período. Nessa eleição rompemos uma grande história porque estaremos em três. Mas o fato de ser mulher nos faz alcançar um melhor resultado no que se refere aos dados de proporcionalidade nos espaços políticos. Mas para construir uma história nova, precisamos nos comprometer com a luta por voz e escuta e compreender o nosso lugar na história.
Para construir políticas públicas que cortam nosso corpo e identidade, precisamos pensar e construir a partir do nosso olhar e o resultado dessa política é positiva para todos e todas. Falando sobre identidade, ser lésbica é um fator que corta meu universo, me faz compreender as opressões e o machismo mais de perto. Essa representatividade é importante para mim e para uma porção de pessoas que votaram em mim nessa expectativa de projetos para a diversidade e reafirmo meu compromisso de olhar com prioridade aos mais vulneráveis.
O cenário de preconceito foi constante nessas eleições, mas honestamente não sofri de forma direta preconceito por minha sexualidade, talvez por ser um ponto que sempre mostrei de forma autêntica, mas sofri misoginia. Muitas vezes! Enfim, ser a primeira mulher, jovem e lésbica eleita com suas idéias e de forma honesta marca novas possibilidades e um fundamental combate aos figurões políticos de práticas duvidosas. Só é o primeiro passo, quero muitas ao meu lado!
O conservadorismo em Poções é sentido de uma forma estranha. Sobre minha perspectiva ele acontece de forma naturalizada mais do que escancarada -digamos assim! E isso é muito grave, porque em regra geral, não existe um conservadorismo ideológico como no cenário nacional. Os partidos e os apoio se confundem porque na verdade se concentram em interesses e afinidades muito pessoais ou familiares.
Afinal, somos uma cidade pequena e é nesse cenário que minha candidatura se mostra ainda mais importante porque vencemos com bandeiras autênticas e um forte conceito ideológico. A chapa majoritária no meu partido PcdoB sofreu algumas violências nas redes, tentaram usar uma narrativa fascista por várias vezes, usando de forma distorcida os conceitos de família e comunismo. E precisamos falar muito disso porque os conservadores ganham onde existe desinformação e ignorância. Neste cenário eu sou o oposto porque nossa proposta é democratizar a educação política. Vai ser um árduo trabalho.
Me orgulho muito da minha identidade e sexualidade e fico absolutamente feliz de saber desse aumento na ocupação política dos corpos LGBTQIA+. Chegou a hora da nossa identidade mostrar que a democracia importa. Nos, minorias políticas, sempre pouco representadas ,fomos excluídas desse acesso e isso só é importante para quem não se sente representado.
Estamos dando passos largos para uma cidade e um país mais democrático e menos violento. Vejo essa possibilidade de mudança em uma prazo menor do que imaginamos, mas para isso é preciso dedicação, não é simples tirar as vendas dos olhos da nossa gente, porque a aceitação do discurso tem que se expontâneo e esse é o grande desafio.
Em Poções fiz parte da fundação e construo um coletivo LGBTQUIA+ que se chama “nós da diversidade”. Me orgulho e tenho esperança quando vejo a existência e permanência dele. Pretendo priorizar essa construção coletiva, ouvindo as pessoas e lutando por conselhos municipais, além disso, usar as redes sociais para um papel fundamental de multiplicar apoio e mostrar transparência. Não deixarei sem visibilidade ou ausentarei pautas importantes. Quero mostrar a competência e a humanidade das nossas propostas e ações.
1 Comentário
Isso ñ quer dizer que avançamos, só avançaremos quando os eleitos sejam por capacidade, projetos e honestidade e não por questões sexuais.