O homem trans Eduardo Príncipe de Lira Rocha deveria começar um emprego novo nesta segunda (12) mas foi dispensado poucas horas antes. No domingo, ele recebeu uma mensagem do empregador informando que havia mudado de ideia. A justificativa foi de que as “cotas de pessoas diferentes” estavam preenchidas. Eduardo é de Juazeiro, na Bahia e iria trabalhar na cidade vizinha de Petrolina, Pernambuco.
Na mensagem, publicada por Eduardo nas redes sociais, o empregador afirma que não percebeu que Rocha era trans. “De minha parte, não segui o roteiro correto das entrevistas e não o identifiquei na primeira . (…) 99% do meu quadro é composto por mulheres. Meu objetivo com essa vaga é contratar um monitor, consequentemente do sexo masculino. Minha cota de pessoas diferentes já está atendida e completa com o que demonstro não ter preconceito”.
Ao finalizar a mensagem, o empregador diz que só soube da “condição” de Rocha posteriormente e que não tem “nada contra”, mas que a vaga é para o sexo masculino.
Eduardo informou que uma cópia da certidão de nascimento foi enviada para o empregador. No documento consta que o estado o reconhece como do sexo masculino. Mas de nada adiantou e o jovem perdeu a vaga.
“Eu não tenho de onde tirar o aluguel do mês que vem. Não tenho, até o momento, uma previsão de como vou pagar as contas dos próximos meses. Eu sei que tá todo mundo fodido, lascado. Mas essa situação me faz perguntar: até quando?”, escreveu Rocha, em suas redes sociais.
Segundo o advogado Gilmar Júnior, em entrevista ao jornal O Globo, foi registrado um boletim de ocorrência pelo crime de racismo, conforme o artigo 4º, da Lei do Crime Racial (lei 7.716/89), que dispõe sobre “negar ou obstar emprego em empresa privada”.
Repúdio
Em nota, a Prefeitura de Juazeiro, através da Secretaria de Desenvolvimento Social, Mulher e Diversidade (SEDES), manifestou repúdio ao ato de transfobia institucional sofrido pelo juazeirense.
“Em um momento de diversas conquistas para a comunidade LGBTQIAP+, como a implantação do Ambulatório Trans em Juazeiro, a garantia da alteração de prenome, casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, reconhecimento do nome social, é inaceitável que as transidentidades permaneçam marcadas por violências, estruturadas social e institucionalmente.A Prefeitura de Juazeiro e a SEDES repudiam qualquer forma de violência transfóbica ou homofóbica e manifestam o seu apoio a Eduardo Príncipe de Lira Rocha, assim como disponibilizam assistência jurídica, psicológica e socioassistencial. A gestão municipal reitera, ainda, o apoio à construção de espaços que respeitem e reconheçam as pessoas em sua integralidade, livres de preconceitos.”, afirmou a prefeitura.