‘Vivemos em um contexto de crise’, diz sócia de Margareth Menezes sobre cancelamento do Mercado Iaô

Faltou dinheiro para colocar o Mercado Iaô 2020 na rua. O espaço, que nos últimos anos lotou a Ribeira, com shows de Magareth Menezes e convidados não será realizado por falta de recursos. O Me Salte conversou com Jaqueline Azevedo, diretora da Fábrica Cultural, e sócia de Margareth Menezes, sobre as razões pelas quais o mercado foi cancelado. Os fãs de Maga não ficarão abandonados no Verão. Dia 8 de fevereiro, por exemplo, ela é uma das atrações do projeto Concha Negra (Teatro Castro Alves) ao lado de Afrocidade e Luedji Luna.

Confira a entrevista:

• Nos últimos anos o Mercado Iaô foi um dos pontos altos do verão. Como foi a decisão de descontinuar o projeto tão exitoso?

Até o último momento trabalhamos pela captação de recursos. Fazemos parte de uma rede com mais de 40 associações na Península de Itapagipe, existimos e resistimos por conta das comunidades de Itapagipe, soteropolitana e baiana. Como uma Organização Social e como Centro de Economia Criativa, essa decisão de adiar o Mercado IAÔ Verão 2020 se deve em respeito aos 300 empreendedores, artistas e agentes culturais que constroem conosco o evento, às 5 mil pessoas que compõem o público a cada domingo e às comunidades, que esperam nossas ações de verão.

O Mercado IAÔ gera trabalhos diretos e indiretos para centenas de pessoas, bem como promove arte, cultura, lazer e informação para a população de Salvador e da Bahia. Estamos esperançosos que, no próximo ano, consigamos realizar muitas edições no verão baiano.

• Por quais motivos você acredita que faltou interesse dos patrocinadores de investir no projeto esse ano?

Vivemos em um contexto de crise econômica no Brasil e o setor sociocultural tem sido atingido diretamente.

• Quanto de dinheiro seria necessário para colocar o projeto na rua? Por quais motivos vocês não conseguiram captar esse recurso?

Pelo caráter institucional de não termos fins lucrativos e por trabalharmos durante o ano todo na mobilização junto aos grupos produtivos e comunitários, pela qualificação e curadorias, bem como outras atividades, o valor do projeto não se reduz ao domingo de realização. Não se trata de um evento pontual. São meses que antecedem e meses após os domingos do Mercado Iaô verão de muito trabalho. Sendo assim os nossos valores são compatíveis com o mercado e às leis de incentivo estaduais e federais.

• Foi pensado em mudar a tônica do projeto e passar a cobrar ingressos em valores não populares como ocorria (ou até mesmo cancelar a gratuidade que havia a depender do horário)?

A gratuidade até às 14h e a tarifa social cobrada após o horário são um compromisso para nós, não pensamos em alterar estes critérios de acesso. O Mercado IAÔ Verão só existe por e pela comunidade, por isso há tanto clamor para que continuemos, para que consigamos patrocínio e apoios diversos. Maga e toda a equipe da Fábrica Cultural e do Mercado IAÔ estão emocionados e fortalecidos para fazer uma edição única nesse verão e realizarmos muitos domingos no próximo ano.

• O Iaô ia muito além da música. Como os outros aspectos do mercado – economia criativa, etc – serão contemplados?

O Mercado IAÔ surgiu como uma proposta de ocupação de um espaço com múltiplas linguagens. Para além da música, teatro, poesia, artes plásticas, gastronomia, artesanato e ideias criativas têm no evento um espaço de fomento. A Associação Fábrica Cultural atua há mais de 15 anos na Bahia, nos eixos estratégicos de Educação, Cultura e Sustentabilidade. Temos outros projetos, como o Aprendiz em Cena, que qualifica 120 jovens na área teatral, pela lei do Jovem Aprendiz, ou seja, com carteira de trabalho assinada. Em 2019, também fomos credenciados como organização gestora da qualificação, fomento e comercialização do Artesanato da Bahia. Seguimos abertos a parcerias e interessados em realizar projetos socioculturais, voltados para geração de renda e fortalecimento da comunidade.