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Como as pessoas LGBTQIA+ podem alcançar cargos de liderança em empresas?

A escassez de diversidade em cargos de liderança é mais comum do que possamos imaginar. Para falar desse assunto, o Me Salte conversou com Ricardo Sales, sócio fundador da Mais Diversidade e pesquisador na Universidade de São Paulo (USP). Ele destaca que posições de liderança, como coordenação, gerência, diretoria, vice-presidência, presidência e conselho poucas vezes são preenchidos por mulheres, pessoas negras, LGBTIs ou com deficiência.

Segundo a pesquisa Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações Afirmativas, realizada pelo Instituto Ethos, em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), apenas 4,7% dos executivos são negros. Ao analisarmos o recorte de gênero a situação é ainda mais crítica – no quadro executivo, a presença de mulheres negras se reduz a 0,4%.

A consultoria Mais Diversidade foi fundada há três anos e atende clientes como Agência África, Braskem, EDP, Itaú, KPMG, Ocyan, Siemens entre outros.  Seu braço de comunicação é responsável por cases como o reposicionamento da marca Skol, da Ambev.

Ricardo foi eleito, junto com seu sócio João Torres, como um dos brasileiros mais influentes no tema diversidade nas organizações pela Out&Equal, maior ONG do mundo no assunto. Ele também é palestrante e líder do Comitê LGBT da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial. Confira:

1- Muitas empresas têm usado as questões de gênero em suas campanhas de marketing. A que você atribui esse crescimento?

As marcas querem fazer parte das conversas mais relevantes e se associar aos temas que estão sendo discutidos pelas pessoas. A pauta de gênero é uma das mais debatidas no país hoje. Como vários outros, este é também um debate polarizado, o que reforça a importância de marcas e empresas falarem do assunto se forma legítima e lastreada em ações efetivas. O discurso é importante, mas sozinha não se sustenta. É preciso ação.

2 – Há, por outro lado, muitas empresas que ignoram a população LGBTQIA. Como acha que isso pode ser revertido ou tem empresas que nunca irão fazer essa alteração?

Algumas empresas são mais conservadoras e demoram mais a tomar decisões. No entanto, a pauta de diversidade é inevitável e vem crescendo numa velocidade enorme no país. É uma questão importante para a sociedade e fundamental para os negócios. A empresa não necessariamente precisa abraçar o tema como uma causa sua. Até porque se não for legítimo as pessoas percebem logo. Mas é fundamental se engajar na discussão por respeito. É o mínimo e o mais importante.

3 – Como a diversidade pode aumentar o rendimento das empresas?

Uma equipe diversa tem uma capacidade mais ampla de leitura da sociedade. Deste modo, é mais preparada para antecipar demandas, tomar decisões e identificar oportunidades de negócios. Diversidade traz inovação. Além disso, quando as pessoas se sentem incluídas, sabem que são respeitadas e que podem se levar por inteiras para o trabalho, produzem mais e melhor. Temos evidências bastante claras hoje de que empresas que respeitam a diversidade têm taxas de engajamento superiores à média do mercado.

4 -O que você considera uma empresa que é diversa e respeita a diversidade?

Uma empresa diversa é aquela que traz em seus quadros uma representatividade da sociedade em que está inserida. No Brasil, por exemplo, 54% da população é negra e 51% é mulher. Representar este público é importante, mas não basta. Por isso, é importante a inclusão, que é justamente valorizar as diferenças e garantir a todas as pessoas oportunidades iguais dentro da empresa.

5 – Como as pessoas LGBTQIA podem alcançar cargos de liderança?

Lésbicas, gays e bissexuais sempre estiveram nas empresas. A principal questão para essas pessoas passa pelo ambiente de trabalho, que muitas vezes é preconceituoso, reproduz as velhas piadas e comentários e limita a ascensão desta parcela da sociedade. No caso da população trans, a questão é ainda mais séria e passa pelo acesso. Muitas delas não conseguem chegar às empresas ainda que contem com a formação necessária. Empresas que não ajustarem suas políticas correm o risco de perder os melhores profissionais.

6 – Há maior dificuldade de uma mulher lésbica ou trans assumir cargos de chefia. Como isso pode ser mudado?

Sim, mulheres lésbicas e trans sofrem com o duplo preconceito, motivado por LGBTfobia e também pelo machismo. Para mudar, é fundamental falar abertamente sobre o tema, capacitar as lideranças e educar as pessoas para o assunto. Diversidade é um dos assuntos da moda, mas não é nenhum modismo. Essa é uma discussão que vai crescer ainda mais nos próximos anos. Empresas que não olharem para o tema ficarão para trás.

Jorge Gauthier
Jorge Gauthier
Jornalista, adora Beyoncé e não abre mão de uma boa fechação! mesalte@redebahahia.com.br

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