GGB dá 15 dias para os LGBTs durante o Carnaval
10 de fevereiro de 2018
Saiba como transexual criou o bordão ‘Bem Menininha’, popularizado por Ivete Sangalo
11 de fevereiro de 2018

O dia que o camarote ‘só tinha viado’ e os heteros surtaram no Carnaval de Salvador

-‘Aff! Só tem viado aqui hoje. Se eu soubesse não teria vindo’, bradava a moça loira de 1,6m com seu salto agulha e brincos de pedraria.

– ‘Que raça desgraçada desses viados até num camarote eles estão em bando’, reclamava o boy cafuçu tatuado abraçado na sua namorada.

– ‘Bora, desgraça! Sai logo desse banheiro’, gritava o engomadinho top na porta do banheiro .

– ‘ Não tenho nada com a sexualidade de vocês mas tem que nos respeitar’, exclamava o segurança homofóbico disfarçado de bastião da moral e dos bons costumes.

Adoraria que as frases e personagens acima fossem ficcionais ou delírios de um pesadelo carnavalesco. Não são. Essas e muitas outras – além de gestos, atos e ações – puderam ser vivenciadas ontem (10) no Camarote Skol Beats no Carnaval de Salvador.

A noite ,que teve shows de Claudia Leitte e Ju Moraes, atraiu um número expressivo de homens gays, mulheres lésbicas e pessoas trans para o espaço. Não houve nenhuma convocação em massa para que isso acontecesse, mas a afinidade do público LGBT com as atrações certamente provocou esse efeito. Resultado: o espaço estava completamente lotado de gays. E os heteros viraram minoria pelo menos nesse lugar e nesta noite. Aí que começaram os problemas.

A minoria hetero ficou acuada pelos cantos. Era estranho ver aquilo. Afinal, aquele espaço de escanteamento normalmente fica a cargo de nós, LGBTs. Desavisados – talvez – muitos se assustaram com a massiva presença de gays no camarote. Até aí tudo bem ter um estranhamento. O problema é que os atos dessa minoria pesaram nos ouvidos e sentimentos de quem estava por lá.

O que dizer da moça que, enquanto eu tirava uma foto com meu marido, falava na nossa direção que queria um homem e que achava um absurdo ter tanto gay no camarote? Eu até fui lá e expliquei PACIENTEMENTE : ‘-Moça, corrija sua frase. Nós somos homens. Uma coisa é o gênero outra é a orientação sexual’.

Leia também: No Carnaval ‘dos viados’ o preconceito gritou alto, mas as bichas lacraram em Salvador

“Ah, meu filho eu quero um homem de verdade. Quero um namorado”, respondeu a jovem senhorita sendo acompanhada por dois seguranças do camarote que acenavam com a cabeça em sinal de concordância. O que dizer para uma pessoa que acha que um gay não é homem de verdade e que nós não poderíamos estar ali? Desejar sorte para que ela encontre um namorado e que ela pare de ser preconceituosa.

Mas ela – infelizmente – não foi a única. A opressão hetero no camarote era impressionante. Os olhares de julgamento eram constantes e não foi raro ouvir a frase ‘ que desperdício dois homens tão bonitos se beijando’.

Vale aqui ressaltar e louvar a iniciativa da Skol em produzir e dialogar a diversidade nos seus produtos e ações (com já falamos diversas vezes aqui no Me Salte) . Contudo, o pior momento que presenciei veio justamente de funcionários contratados pelo espaço.

Por volta das 3h um grupo com cerca de 10 seguranças – vestidos de camisa polo amarela sem identificação de qual empresa pertenciam – entrou em um dos banheiros do camarote. Começaram a bater nas portas gritando palavras do tipo: ‘se eu pegar dois viados aí dentro eu quebro’ / ‘vocês acham que a gente tá aqui de palhaçada nessa desgraça’/ ‘Bora abre essa desgraça ai’ / ‘Não tem dinheiro pra pagar motel, desgraça’/ ‘Mete a porrada nessas desgraças’”.
Eles esmurravam as portas dos banheiros para tentar achar alguma cabine onde tivessem dois homens juntos. Acharam uma cabine. Ai aumentaram os insultos, ameaças e as agressões verbais. ‘Se eu te pegar de novo você vai se arrasar’, gritava um dos seguranças.

Um dos ‘’’trabalhadores’’’’ que estava mais exaltado disse a frase que deixou claro o real motivo daquela ‘operação banheirão’: ‘Ninguém tem nada a ver com a sexualidade de vocês não. Agora vocês têm que respeitar a gente também e as pessoas que estão com vocês”.

Ao ser questionado por um folião do camarote – que filmou toda a cena – sobre o que os jovens teriam feito para desrespeitar eles o segurança começou a fazer ameaças. “Se acontecer alguma coisa comigo você me paga”, ameaçou o segurança disfarçado de bastião da moral e dos bons costumes.

Ali ficou claro que o problema não eram os atos que eventualmente pudessem está sendo praticados dentro da cabine pelos homens e sim o que isso atingia a heterossexualidade daquelas pessoas que ali estavam.

Não acredito que a direção da Skol compactue com esse tipo de ato, mas fica aqui a sinalização pois isso macula a boa imagem do evento. Tivemos acesso ao vídeo, mas em função da segurança dos foliões que foram ameaçados não vamos divulgar.

Na horda de preconceito ‘sobrou’ até para Claudia Leitte. “Não sabia que Claudia era sapatão. Só pode ser pra ter tanto fã viado”, afirmava veementemente o hetero top para seu grupo de amigos. Detalhe: enquanto isso do alto da área vip o marido de Claudia olhava sua esposa – vestida de deusa – fazer seu show.

Os homens gays – que eram maioria – recebiam os maiores insultos dessa minoria hetero presente. Mas, as mulheres lésbicas também foram vítimas. Em uma cena que presenciei duas meninas se beijavam quando um homem com sotaque espanhol se aproximou delas querendo beijá-las. As meninas resistiram. Disseram não várias vezes, mas ele insistiu. Ele só parou de assediá-las quando um folião se aproximou e ofereceu ajuda as meninas.

Quando fui questionar pra ele o motivo do assédio ele larga a frase no seu sotaque arrastado ‘ não tinha entendido que elas tinham dito não’. Desculpa esfarrapada. Fica a dica: Não é porque tem duas mulheres se beijando que elas precisam satisfazer seus desejos, senhor turista!

Estranhamente essa cenas me fizeram, pela primeira vez, me sentir mais oprimido num espaço com mais gays do que heteros. A voz do preconceito ecoa de forma amplificada. Uma única voz pode afetar e ferir. O melhor de tudo isso é que, apesar disso tudo que eu relatei, os viados deram show no camarote.

A cada gesto preconceituoso ou frase atravessada os grupinhos puxavam o canto de ‘ai que delícia, que delícia ser viado’, trechos de vídeo que viralizou na internet. A cada vez que uma desavisada dizia que queria um homem de verdade e que ali só tinha viado rolavam beijos (às vezes triplos) e por aí vai.

Nossapresença incomoda ? PelovPelov sim. Mas ser viado é incomodar mesmo, lutar e resistir mesmo no meio da folia do Carnaval!


ACOMPANHE EM TEMPO REAL A COBERTURA DO CARNAVAL DE SALVADOR

Após a divulgação do texto do Me Salte os responsáveis pelo camarote divulgaram o seguinte pósicionamento:

A 2GB, proprietária do Camarote SKOL Beats, lamenta o ocorrido e informa que está averiguando os fatos para as devidas providências. A empresa reforçou neste domingo o treinamento dos funcionários para garantir a melhor experiência dos foliões no camarote. A 2GB, assim como a cerveja SKOL, abraça a diversidade e o respeito, e incentiva todos a curtir juntos em um Carnaval redondo.

 

Notícia atualiza às 18h39 do dia 11 de fevereiro para incluir o posicionamento da organização do camarote

Jorge Gauthier
Jorge Gauthier
Jornalista, adora Beyoncé e não abre mão de uma boa fechação! mesalte@redebahahia.com.br

19 Comentários

  1. Ironeides disse:

    Mesmo sem corcordar as pessoas têm que respeitsr a opicão sexual de cada pessoa

    • Jack Tigre disse:

      Primeiro vc precisa aprender a escrever. Segundo, precisa aprender que não se trata de opção sexual, e sim, orientação sexual. Vc acha que uma pessoa, se pudesse, iria optar por ser GAY, optar por passar por tudo isso???

  2. Edvan da hora disse:

    Eu digo a todos vcs não tratem como animas são iguais a nois seres vícios e seres humanos tbm pra. prá essa descriminação e. De tivesse. Alguém. Da. Sua familia. E discriminasse um deles. Pronto vou logo bolir na ferida e fosse um filho seu e. Ai be. Ai o q vc. Me. Di. Agora

  3. Pathy disse:

    Eu ainda fico impressionada com tanta ignorância…
    Eh tão bom ficar perto dos “gay’s” (não gosto de rótulos); toda festa sempre procuro grupos…são mais divertidos, respeitosos e até cuidam de quem está ao lado. Sou prova viva de situações constrangedoras e sempre fui defendida.
    Ao invés de rótulos deveriam todos apenas se divertirem, eh para isso que eu saio de casa…para ver GENTE FELIZ E SER FELIZ!
    De amargo, nem café serve.

  4. Rogerio Lima disse:

    Preciso tirar umas dúvidas, Jorge! Cê falou de comunidade LGBT, mas excluiu as pessoas bissexuais. Como você tem certeza da não existência de homens ou mulheres bissexuais no camarote e que sofreram com o preconceito também? Como saber de de fato eram somente homens gays e lésbicas? Porque invisibilizar os bissexuais?

    É muito comum se falar de combate ao preconceito contra as pessoas LGBT, mas muitos fazem questão de serem bifóbicos, como esse seu texto. Bifobia também é uma opressão que precisa ser combatida. Quando se fala de combate ao preconceito contra LGBTs e é bifóbico é só mais uma expressão da hipocrisia dessa sociedade.

    Aguardo resposta.

    • Jorge Gauthier disse:

      Oi Rogério,
      O texto aborda o que eu vi e presenciei. Provavelmente deveriam ter bissexuais no espaço, mas eu não presenciei algo do gênero.

      • Rogerio Lima disse:

        Segue a minha curiosidade: como vc faz pra saber se eram homens gays ou bissexuais no espaço dentro do que vc viu e presenciou?

        Cê foi bem taxativo em definir a orientação sexual dos presentes, mesmo sem ter certeza, vc invizibilizou pessoas bi, isso é só um traço de bifobia.

        Nós sofremos essas merdas aí que cê relatou e ainda sofremos com o preconceito de quem faz parte dessa comunidade LGBT.

  5. DANIEL BADRA DE FARIA disse:

    Só lembrando que bissexuais existem e tal

  6. Fabrício Leal disse:

    O fato de ter ou não viado em “meios héteros” não impede em nada de mulheres pegarem seus “homens de verdade”, e dos cara, as suas mulheres. A questão é que não aceitam que estamos emergindo, saindo de trás dos aplicativos, das boates escondidas, dos lugares mais marginalizados e ofuscados, e estamos SIM tomando o direto que é nosso, de ir e vir, assim como ELES, os engomadinhos e as patricinhas héteros tem! Antes de sermos gays e lésbicas, somos homem e mulheres, e o mesmo que eles tem, nos também temos. Terão que aceitar sim

  7. Cícero Cícero disse:

    Se todo pai ou mãe quando soubesse que seu filho era viado desse uma boa piza uma surra muito boa ou tivesem algum respeito pelo seus pai não estaríamos exportando viados. ..JESUS ESTA VOLTAR DO PARA ACABAR C ESSA SODOMA E GOMORA vão morrem todos queimados.

  8. Micheli disse:

    Estou sendo discriminada orr ser minoria hetero kkkk piada do seculo!

  9. Franklin disse:

    A segurança está muito errado com essa atitude, se estou pagando quero respeito!

  10. João Oliveira Lima. disse:

    Eles merecem uma surra de cipó caboco , até soltar o couro do rabo.

  11. Eder disse:

    Já fui vítima disso e quase fui expulso do camarote Band Folia, por estar com um amigo e saquei meu cel de dentro do meu porta dollar.
    Os seguranças além de brutos usaram força fisica ameaçando me tirar do camarote pois supostamente me viram masturbando.
    Um absurdo!
    Só peguei meu cel pois meu amigo tinha voo marcado e estávamos checando o horário para q ele pudesse ir embora para o hotel e pegar as coisas dele.
    Pior experiência!

  12. Ana Maria disse:

    Você querer defender duas pessoas transando em um banheiro público?Isso é ridiculo, ninguém merece ver ninguém independente da orientação sexual transando com outro, exceto que a pessoa queira (ah mas estava em um box, ninguém via), não importa! As pessoas que precisaram utilizar o banheiro tiveram que ouvir aquilo e ainda pegar uma fila desnecessária pois tinha gente ali fazia muito tempo.

  13. Léo carneiro disse:

    Mentira qnqo vai olhar nada. Só respondeu pq vai ficar feio p o evento. Tinha q postar o vídeo. Eles ameaçam e vcs ficam com medo? Põe na roda. Deixa eles se fuderem.

  14. Ariane disse:

    Um monte de mimimi

  15. website disse:

    A diferença é notáᴠel e normalmente
    rápіda.

  16. Luciano Albuquerque Correia de Menezes disse:

    Só acho que tem que ter o respeito nos banheiros , ali não é lugar para sexo ou ou uso de drogas é uma questão de civilidade respeitar o próximo para serem respeitadosr e lugar de fazer sexo não é dentro de banheiros químicos, como os homens que se dizem heteros não usarem lugares públicos para suas necessidades .
    Os organizadores dos camarotes precisam treinar os seguranças para que eles não agam com as suas opiniões e sim com uma conduta pré determinada. Eles não estão ali para colocarem suas opiniões sobre o que é certo ou errado para eles e sim manter a ordem e o respeito entre os que estão participando dos eventos .
    Em uma festa LGBT não existe brigas de faça, garrafas quebradas ou tiros, ao contrários eles pedem desculpas, e continuam a se divertir ao contrário dos heteros que acabam se ferindo, formando gangs que vão ao evento com o intuito de apenas provocarem brigas e desordem.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *