Se você ainda não conhece o trabalho da cantora baiana Luedji Luna, 31 anos, precisa parar um segundo para escutar essa artista de voz doce e potente que se apresenta nesta sexta-feira (17), no Teatro Castro Alves, com os ingressos esgotados. O Prêmio Caymmi de Música 2017 e o Prêmio Bravo, ambos como revelação, foram só algumas pistas do impacto causado pelo elogiado álbum Um Corpo no Mundo, que conquistou o Brasil por ser genuíno e carregar consigo a força da cultura afro-baiana.

Contemplado pelo edital Natura Musical, o show de hoje conta com participação do cantor Tiganá Santana e marca a estreia nacional da turnê que vai circular por outros estados. Acompanhada pela banda que gravou o disco lançado no ano passado, Luedji reproduz todas as músicas do repertório, na sequência, e abre espaço para o convidado de voz imponente de quem é “fã desde sempre”.

Minimalista, Luedji dá voz a letras autorais intensas que exaltam a negritude, denunciam o racismo e reforçam a busca por identidade e pertencimento. Acompanhada por melodias que misturam batuque baiano com congo e batá cubano, a cantora se destaca pela suavidade da interpretação. Essa marca, porém, nem sempre foi aceita pela artista que teve dúvidas se esse era mesmo o caminho a ser seguido.

“Fiquei temerosa, no início. Em um mundo onde está todo mundo gritando, eu estava cantando baixinho. ‘Ninguém vai me ouvir’”, pensou Luedji na época em que decidiu gravar Um Corpo no Mundo. Mas foi com a voz crua que trilhou sua história. “Escolhi ser verdadeira e honesta com a música. E parece que as pessoas estavam sedentas por algo que fosse real, fiquei surpresa e aliviada, porque estava com medo ‘o que é que eu tô fazendo?’”, revela.

Tiganá Santana é o convidado de Luedji Luna (Foto: Reprodução Instagram)

Tudo começou quando saiu de Salvador, “uma cidade quente e cheia de pretos”, para morar em São Paulo, “uma cidade fria onde a gente é minoria étnica”. “Fiquei muito pensativa sobre esse novo lugar enquanto corpo negro no Brasil. É um território que quer apagar esses corpos, seja com o genocídio ou simbolicamente. Se estou no território que não é meu, tenho que lutar o tempo todo. Então qual é o lugar desse corpo?”, questiona Luedji. “No mundo”, responde.

TCA
Depois de arriscar tudo, Luedji colhe os frutos do seu trabalho de estreia menos de um ano depois. E justamente no teatro que faz parte de sua história desde pequena, quando frequentava com a mãe. “Aquele palco tem uma imponência por si só. É um palco por onde passaram artistas consagrados internacionalmente e é muito simbólico pra mim estar ocupando esse lugar. Diz muito que estou certa das minhas escolhas, por mais que pareçam arriscadas e fujam um pouco do padrão”, comemora Luedji.

A artista começou a escrever uma coisa ou outra ainda na infância, mas foi a partir dos 17 anos que levou a composição a sério. A inspiração vem das experiências pessoais ou de pessoas que passaram por sua vida e o resultado aparece em letras críticas, cheias de leveza e poesia.

“Acho que é reflexo de como escolhi estar no mundo: ser mulher negra. Esse corpo traz muita carga, muita memória, muito trauma, muita dor. Até que comecei a mudar a chave e passei a aceitar a dor, olhar pra dor, curar essa dor. Não dá pra fazer isso de outro jeito senão com leveza”, garante.

Além de dois clipes do disco que serão lançados até o final do ano, Luedji trabalha em novas composições e provoca: “quem sabe até 2020 não vem um disco novo?”. Mas por enquanto, reforça, Um Corpo no Mundo “ainda tem muito que caminhar”.

Serviço
O quê: Luedji Luna estreia a turnê Um Corpo no Mundo
Onde: Teatro Castro Alves (Campo Grande | 3003-0595)
Quando: Sexta-feira (17), às 20h
Ingressos (esgotados): R$ 60 | R$ 30 (A a P), R$ 40 | R$ 20 (Q a Z) e R$ 30 | R$ 15 (Z1 a Z11).

Texto: Laura Fernandes 

17 de agosto de 2018

Conheça Luedji Luna, cantora que esgotou os ingressos do TCA

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