Os crimes com motivação homofóbica estão cada vez mais disseminados na nossa sociedade, mas falta visibilidade em cima desses casos. Pensando nisso, a ator Weber Fonseca escreveu o “lgbtfobia: casos de violência por discriminação de gêneros, identidades e orientações sexuais na Grande São Paulo”, editado pela Lamparina Luminosa. Em conversa com o Me Salte, Weber conta que o principal destaque o livro é o relato dos crescentes casos de ataques homofóbicos e crimes de ódios cometidos contra gays, lésbicas, transexuais e transgêneros na cidade de São Paulo, mas que reverberam (e se repetem em várias cidades brasileiras).
O livro reúne alguns casos de ataques sofridos por diferentes cidadãos como a artista Renata Peron, o advogado André Cardoso Gomes Baliera, o estudante Victor Pereira da Silva Maced, o casal de professores Gabriel da Silva Cruz e Jonathan Favari, Dougals de Oliveira que relata o caso que culminou na morte de Kaique dos Santos, Lua Aoki, e o estudante de publicidade Samuel Silva.O livro de 155 páginas traz também dados atualizados sobre a questão LGBT em números, ações públicas, termos, legislação e um guia de informações gerais.

Veja abaixo entrevista do Me Salte com o autor

Me Salte – Seu livro “lgbtfobia” abre discussão para a discriminação de gêneros e identidades. Como acredita que o livro traz relevância para a causa?
Weber Fonseca – A ideia do livro desde o início era ser a voz das vítimas. A mídia por vezes divulga o acontecimento como factual e ignora o processo posterior de recuperação destas vítimas. Não penso que seria necessário boletins diários sobre estas pessoas mas muitos ficam estigmatizados e todo processo de recuperação é doloroso e oneroso. Penso que estas vozes serem “ouvidas” sem cortes e sem julgamentos já seria de grande relevância para a causa pois estes indivíduos talvez pela primeira vez como relata o André tiveram as suas versões contadas sem questionamentos. Já basta o fato de sermos balizados por leis redigidas e executas sob o olhar cis heteronormativo com doses machistas. Ou seja, cruel! Claro, que seria perfeito que os lgbtfóbicos lessem pois quem sabe poderiam se identificar com a dor de um ser humano. Quem sabe?… Nós da comunidade sabemos muito bem que estes fatos acontecem e nos colocam entre os países que mais matam indivíduos lgbts. Mas nossa sociedade não quer enxergar este fato. Basta ver nossos representantes legislativos. Com o livro eu quero expor estas vozes caladas pela violência e fazer nossa causa ser visível! Eu deixo claro que infelizmente o livro não tem um fim, não é amostragem, no máximo um recorte de vidas particulares dignas e que merecem ser ouvidas. Mas estes casos certamente são reconhecidos por todos.

Claro, que seria perfeito que os lgbtfóbicos lessem pois quem sabe poderiam se identificar com a dor de um ser humano. Quem sabe?…

MS – Acredita que a falta de julgamento e punição são fatores que colaboram com as disseminação de crimes conta a população lgbt?
WF – Sem duvida! Este é o ponto. A lei não vai mudar o caráter do agressor mas dará a ele parâmetros de civilidade. Eu gosto da seguinte citação “ está num projeto de lei da deputada estadual aqui em São Paulo Leci Brandão: Sabemos que não se estabelece a afetividade por meio de leis, mas que o respeito ao próximo é um valor ético que, ao ser transgredido, exige que instrumentos assegurem o respeito e a dignidade dos grupos vitimizados da nossa sociedade. É isto! A lei deve ser inclusiva, sempre. Crime de ódio por homofobia ou transfobia nem mesmo consta de números oficiais. Quando apanhamos ou morremos na rua somos contabilizados como uma vitima qualquer e o agressor não será devidamente qualificado pelo seu crime. No máximo, motivo torpe. Hoje minimamente começam a surgir alguns mecanismos legais de proteção – apesar do obscurantismo que nos assola – como a lei de 10948 no Estado de São Paulo que criminaliza estabelecimentos comerciais caso não combatam a discriminação. Desde 2005, a violência é uma notificação obrigatória no SUS mas sem o registro de informação em relação à   orientação sexual e identidade de gênero. A ideia é criar uma mudança no sistema de notificação de casos de violência e deixar visível qual é a orientação sexual e a identidade de gênero do paciente, além da motivação da agressão. Desta forma, começa a se desenhar um mapa da violência contra a comunidade LGBT. Isto começa, aos poucos, tornar o fato visível!

A lei deve ser inclusiva, sempre. Crime de ódio por homofobia ou transfobia nem mesmo consta de números oficiais. Quando apanhamos ou morremos na rua somos contabilizados como uma vitima qualquer e o agressor não será devidamente qualificado pelo seu crime.

MS- O livro reúne alguns casos de ataques sofridos por diferentes cidadãos. Tem alguma que você destaque? Por quais motivos?

WF – Eu particularmente sou defensor de cada uma das vozes que estão ali. Cada um ocupa um espaço de importância ímpar. Renata retrata um realidade comum na vida da mulher trans, além de ser uma sobrevivente de um período ainda nebuloso nas leis. André ganha um processo administrativo no Estado que é significativo para a causa. Gabriel e Jonahtan mostram a aplicação da lei 10948. Victor é o caso de uma geração potente que está surgindo com força, voz e coragem para enfrentar o reacionarismo. Lua deixa claro a opressão e violência social. Douglas retrata outra particularidade ao contar a morte de Kaique, a realidade de jovens expulsos de casa por serem gays e outra grave estatística, na falta de uma lei eficaz vários processos que incluem a morte da vítima são arquivados tendo como conclusão: suicidio. E o Samuel reúne extremos de uma situação transfóbica: estupro, exclusão, discriminação. Um caso complexo. É um jovem homem incrível. Tenho certeza que se fossem 100 casos, teríamos 100 particularidades.

MS- O que você pensa sobre a criminalização da homofobia?
WF – Uma urgência, questão de saúde pública, segurança pública, direitos civis, diretos humanos. Nossos políticos são criminosos em pautar esta legislação vigente. Acabamos de ter uma derrota com a retirada da questão de gênero no PNE. Eu pensava que estávamos num outro momento. De uma ética inclusiva. Jamais pensei viver a situação que vivemos hoje. Estarei na luta pelos meus direitos. Mas penso que ainda teremos muitas décadas até podermos viver numa sociedade que dignifica todos os seres humanos.

MS-  Dentro da população lgbt existem vários casos de militância que possuem visibilidade. Como essas histórias podem inspirar quem é vítima de algum tipo de violência, por exemplo, pela sua identidade ?
WF – Estas histórias e militâncias são 100% inspiradoras. Veja, Daniela Andrade, Maria Clara Araujo, Majú Giorgio do Mães Pela Diversidade… São citadas por algumas das vitimas. Blogueiras e blogueiros, páginas de redes sociais, este movimento todo que se forma ao redor das redes sociais permite a disseminação da informação, da luta, do empdoeramento. Quase todos os entrevistados citam isso, o Victor por exemplo, não tendo apoio em casa é inspirado pela militância de tantas pessoas citadas por ele.  E todos acabam sendo uma voz potente nas redes sociais. Basta acompanha-los, suas páginas, seus blogs, e no caso aqui em são Paulo também, na rua. Todo movimento, todo role da militância, a gente encontra este pessoal empunhando seus direitos! Estão todos na rua!

SERVIÇO
LGBTFOBIA: casos de violência por discriminação de gêneros, identidades e orientações sexuais na Grande São
Editora Lamparina Luminosa
O livro está sendo vendido no site www.lamparinaluminosa.com
Preço R$ 25,00

9 de abril de 2016

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