A jornalista e ativista social Larissa Moraes, de 32 anos, quer entrar para a história da Câmara Municipal de Salvador depois de outubro. Ela é pré-candidata, pelo PMDB, ao cargo de vereadora e, se for eleita, entrará para o estreito rol de vereadoras assumidamente lésbicas na capital baiana. Já houveram vereadoras lésbicas, mas elas não tinham essa bandeira de luta como central nos seus mandatos. No entanto, devemos reconhecer que esses mandatos foram importantes para a causa das mulheres e LGBT, a exemplo da ex-vereadora Fabíola Mansur, lésbica assumida que atua na área da saúde e também contribuiu para política LGBT na cidade de Salvador quando lutou pela aprovação do projeto de lei que criou o centro de referência municipal, disse Larissa, em conversa com o Me Salte.
Larissa tem circulado nos meios LGBTs de Salvador “ concursos, bares e boates “ fazendo corpo a corpo na pré-campanha. Inclusive, chegou a iniciar uma ação de outdoors pelas suas da cidade com a frase Deus ama você, independente de sua orientação sexual ou identidade de gênero, dentro da campanha Tire Sua Bike Do Armário. Â A pré-candidata diz que que sua história é marcada por invisibilidades e lutas. Desde o momento em que me “assumi”, que me percebi lésbica tive – e tenho- que lutar cotidianamente para ser respeitada, inclusive na minha família. A rejeição afetiva e social por parte de familiares, colegas de escola, trabalho sempre foi uma realidade, mas nunca permiti que me silenciassem, sempre exigir respeito a mim, minha namorada e amigas/os, defende ela destacando que através do movimento social LGBT passou a politizar a sua vivência.
Veja abaixo entrevista com Larissa Moraes onde ela explica sua pretensões:
Me Salte – Você é Â pré-candidata ao cargo de vereadora de Salvador e vem fazendo mobilizações em prol da causa LGBT. Como você se vê dentro do cenário político?
Larissa Moraes – O atual cenário da política brasileira tem sido desgastante, mas também tem servido para mobilizar pessoas que desejam e defendem um mundo melhor. Isso porque o descrédito na democracia e no sistema político atual – que necessita de uma reforma proposta pelo povo -, faz com que de um lado, as pessoas se desinteressem pela política e dêem mais brechas para os “políticos de sempre” agir e, de outro, que novas pessoas surjam e passem a disputar outras formas de viver e pensar a política e a vida como um todo. Eu me coloco do lado de quem está disposta a enfrentar o conservadorismo presente nos partidos (e isso temos em comum nos de direita e esquerda), na câmara, nas ruas, denunciando as opressões e desigualdades onde quer que ela esteja e construindo alianças – independente de identificação e filiação ideológica -, pois se a gente não trabalhar em rede com quem está disposta(o), não temos força para fazer as mudanças necessárias.
– Há muito preconceito na política e na sociedade com os LGBTs como você pretende dialogar com esses preconceitos?
Enquanto a LGBTfobia (ódio, aversão, opressão contra as pessoas LGBT) for tratada com um mero “preconceito” estaremos vítimas desse mal que nos assola cotidianamente. A lesbofobia, a homofobia, a transfobia, a bifobia são violências cotidianas e culturais, que se manifestam em xingamentos, humilhações, discriminação, mas também em agressões físicas, psicológicas, estupros corretivos, na morte, no desemprego estrutural, etc.
MS – Â O que você quer dizer com isso?
LM – O que eu quero dizer com isso é que precisamos extinguir essa cultura de ódio, de intolerância, de desigualdade. É preciso desmitificar estigmas e visibilizar a nossa identidade sexual de uma forma positiva, saudável. Mas, sobretudo precisamos somar forças para criar leis de enfrentamento e criminalização da LGBTfobia, garantir uma educação laica e plural, inserir as pessoas LGBT em situação de vulnerabilidade social nos programas sociais de habitação, educação continuada, geração de emprego e renda, profissionalização, acesso integral à saúde, dentre outros. Eu pretendo utilizar das atribuições e competências que se tem através de uma cadeira no legislativo municipal, para disputar projetos de lei e indicação que dê respostas a essa onda de violência LGBTfóbica (a cada 28h temos um assassinato no Brasil movido por crime de ódio) e que promovam a inclusão social.
MS – Você está dentro de um partido tido com conservador. Como você pretende dialogar com a temática de diversidade?
LM – E qual o partido que não é conservador quando se trata da defesa intransijente dos direitos humanos das mulheres, das pessoas LGBT? Afinal, essas questões vão bater de frente com valores e práticas de uma sociedade machista, excludente. Basta a gente observar nos nossos municípios e estados. A bancada legislativa da Bahia – composta pela maioria de parlamentares de esquerda – retirou do Plano Estadual de Educação as questões de gênero e sexualidade, impossibilitando que professoras(es), crianças, adolescentes e jovens tenham a oportunidade de refletir e desconstruir esses preconceitos. O plano é um instrumento essencial para a transformação social, pois através da educação construímos pessoas melhores, um mundo melhor. Então, o que você me diz sobre isso? É importante que nós LGBT sejamos estratégicas(os), que a gente saiba utilizar do pragmatismo e das relações políticas para agregar pessoas para o nosso lado. É muito dificil ser mulher e/ou ser LGBT dentro de qualquer partido, inclusive dos que tem os projetos mais progressistas, porém só lançam candidaturas LGBT para arrecadarem votos para sua legenda. Me diga, tivemos governos de esquerda. O que fizeram pela população LGBT? E o que não fizeram, por que? Infelizmente o conservadorismo está presente em todos os lados. Eu estou pronta pra disputa interna, pronta pra mudar, se possível, a história desse partido. Inclusive isso já está acontecendo, a minha pré-candidatura e a implantação dos núcleos LGBT nos diretórios municipais é um reflexo dessa disputa.