Na primeira vez que o pernambucano Gilberto entrou na casa do BBB 2021 já deu para perceber que ali estava um de nós. Bicha, preta e nordestina sem medo de ser feliz e sem nenhuma vontade de esconder suas marcas identitárias. Isso lhe custou caro. Quando deixou a casa do programa, na noite de domingo (02) às vésperas da final, recebeu o ‘pagamento’ por ser quem é no país em que vivemos.
Gil sofreu – tal qual o baiano Jean Willys (o único gay assumido a ganhar o programa na 5ª edição – por não se esconder. Pôs a cara diante da câmera e dos seus colegas de confinamento. Foi excluído, vítima de milhares de comentários xenófobos, homofóbicos e odiosos. Como diria Lumena, por não performar a heteronormatividade padrão penou. Penou e foi punido. Chegou a ser apontado como favorito, mas sucumbiu diante das fogueiras do preconceito.
Não, não estou passando pano em nenhum momento para as coisas questionáveis que ele fez no programa. Sim, ninguém é perfeito muito menos se tiver uma dezena de câmaras ligadas por 24 horas com o holofote do Brasil pelas redes sociais. A questão é perceber que ser quem é e não ter medo de assumir essas bandeiras.
Quando Gil beijou Lucas o Brasil ‘veio abaixo’ numa onda de ódio e rancor. Nunca vi nenhuma reação do gênero com casais heteros e brancos. É o mesmo que acontece aqui fora. Você já passou por essa experiência em público? Tenho certeza que sim. A homofobia é cruel e constante. Infelizmente.
Quem assistiu ao programa do início ao fim pode até dizer que a relação de amor e ódio dele com Juliette, a provável campeã, tenha sido crucial para sua saída. Sim, isso não pode ser desconsiderado. Contudo, essa edição do programa provou na sua essência que os movimentos fora da casa se mostraram mais intensos do que nunca. Tenho certeza absoluta que você que está lendo esse texto agora em algum momento dos últimos três meses recebeu pelo seu celular alguma crítica ao Gil por ser homossexual, negro ou nordestino. Pare aí e reflita: você recebeu algo no seu celular sobre algum participante branco, homem e hetero questionando algumas dessas três coisas? Duvido!
O que Gil passou lá dentro não é muito diferente do que ele – e tantos outros de nós iguais a ele aqui fora – passamos diariamente. Somos motivo de chacota, violências e nossos corpos sangram diariamente.
Se Gil fosse um homem branco, sudestino e hetero seu destino não seria o mesmo no programa e também seria muito diferente aqui fora – só observem o que está acontecendo e o que acontecerá com Fiuk, por exemplo. Mas, a luta continua e como ele mesmo disse no programa: ‘Eu não vim do lixo pra perder pra basculho’. Sigamos!