Há mais de 30 anos, nas boates de Salvador, o nome de Dion é saudado com respeito e reverência. Conhecida como a Diva do Milênio, Dion agora quer ser reverenciada em outro palco: a Câmara de Vereadores de Salvador, onde pretende assumir uma cadeira nas próximas eleições. Presidente municipal LGBT do partido Solidariedade, além dos palcos, atua como arquiteta e designer de interiores.
Nasci em Ituberá uma cidade do baixo sul baiano, vim para capital com 14 anos. Aos 18 comecei a trabalhar como cabeleireira e maquiadora. Como todos LGBTs sofri muito preconceito, mas nunca aceitei a exclusão. Por isso participei da militância acompanhando até hoje o movimento e cada vez minha insatisfação aumenta com a falta de eficácia das políticas públicas. Há mais de 30 anos desde que fiz a primeira música (My Way na voz de Shirley Bassey) estou das coxias aos palcos tentando fortalecer uma arte que é linda e ao mesmo tempo desvalorizada por parte de homofóbicos que depreciam a cultura LGBT, conta Dion que se autodenomina como transgênero. Pelo próprio significado da palavra estou transitando entre os gêneros, transformista, travesti e transexual. Não apenas represento, mas é assim que me vejo, explica Dion.
Me Salte – Você pré-candidata ao cargo de vereadora de Salvador e vem fazendo mobilizações em prol da causa LGBT, inclusive o festival Pôr-do-Sol das Divas, aos domingos, na Barra. Como você se vê dentro do cenário político?
Dion – Me vejo como uma pessoa comum, normal, como qualquer cidadã brasileira que anseia por uma mudança imediata diante de tantos desmandos e descasos que vem acontecendo no cenário político principalmente quando se trata da causa LGBT. A falta de políticas públicas eficazes, de soluções duradouras para os problemas que surgem e se enraízam na sociedade como a homofobia por exemplo. Enfim, me vejo como cada um que enxerga em mim uma possibilidade de transformação, pois eu sou gay, lésbica, bisexual, travesti, homem ou mulher trans, Sou LGBT.
MS-Há muito preconceito na política e na sociedade com os LGBTs como você pretende dialogar com esses preconceitos?
D “ Acima de tudo com uma linguagem que a população entenda, realizando políticas públicas eficazes e isonômicas, sendo uma agente transformadora de conceitos e preceitos, por exemplo, muitos viram as costas para as causas Lgbts, desde eventos culturais a necessidades que vão de emprego até assistência médica. Travestis morrem por falta de amparo médico, pois, ao procurar muitas tem a sua dignidade abalada pelo preconceito e despreparo psicossocial daqueles envolvidos na saúde seja pública ou privada, E digo isso com propriedade, pois sou procurada por muitas em busca de auxilio, o que faço independente da pré-candidatura, faço como humana, pois sempre enxerguei um irmão LGBT como a mim mesma. A minha luta em buscar uma cadeira, visto que sou pré-candidata, se assim conseguir, já seria uma vitória porque somos minorias em representatividade no legislativo, já iria romper barreiras.
MS-Você está dentro de um partido tido com conservador. Como você pretende dialogar com a temática de diversidade?
D “ Bem, o partido não é conservador. E quando fui convidada para participar do Solidariedade deixei bem claro qual é a minha bandeira. Os líderes, por sua vez, acolheram a mim e a causa LGBT me dando total liberdade para agir em favor daquilo que acredito, não é à toa que sou Presidente Municipal da frente LGBT.
*As fotos que ilustram essa reportagem são da fotógrafa Andréa MagnoniÂ