Orgulho! Essa é a palavra que define o sentimento de quem viu o espetáculo Rebola, dirigido por Thiago Romero, ganhar na noite de quarta-feira (20) os prêmios de melhor espetáculo adulto e melhor texto na 24ª edição do Prêmio Braskem de Teatro. Mas, orgulho de que mesmo? Poderia dizer que estou orgulhoso pelo fato de um espetáculo com temática LGBTQI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queers e Intersexuais)  ter vencido duas das mais importantes categorias do maior prêmio do teatro da Bahia. Poderia dizer que foi lindo ver a equipe do Rebola recebendo o troféu sob o som da banda do bloco Ilê Aiyê no palco do Teatro Castro Alves. Poderia também dizer que estou orgulhoso porque vi de perto – mais de uma vez – o espetáculo que fala sobre nós, LGBTs através do belo (e agora premiado) texto do alagoinhense Daniel Arcades … .mas é um pouco mais do que isso.

O espetáculo Rebola trouxe vida ao Beco dos Artistas, no bairro do Garcia, no ano passado. A peça é uma grande celebração do projeto de ocupação artística do local que está esquecido pelo poder público e é símbolo da cena LGBTQI de Salvador, que ganhou um sopro de vida com as apresentações teatrais do ano passado, mas, hoje, depois do fim do projeto, voltou a sucumbir na escuridão. O espetáculo se passou no bar batizado de Xampoo sempre no esquema pague quanto quiser. Ele também passou pelo Teatro Gregório de Mattos e pelo Barbalho, mas vê-lo no Beco dos Artistas é o melhor sentimento que o Rebola pode provocar.

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Foto: Andrea Magnoni

Na história, uma trupe de artistas luta para manter aberto o espaço Xampoo ( antigo bar Canto da Seresta). A ideia do Xampoo, espaço de ocupação oficial do Teatro da Queda e da Kalik Produções durante quatro meses de 2016, é que o espaço fosse um lugar para relembrar os tempos passados de muito glamour e fechação do espaço artístico.  O Beco dos Artistas, localizado no bairro do Garcia, foi famoso por décadas pelo grande movimento de sujeitos comprometidos com a diversidade sexual. Ali, além de diversão e lazer, diversos movimentos políticos e artísticos nasceram e ganharam forma.

Ah, mas o Rebola é bom só porque deu vida ao Beco dos Artistas? Não. Não é ‘apenas’ isso. Em cena, os atores do Teatro da Queda atuam ao lado do ator Hamilton Lima, especialmente convidado para o projeto. Tem uma história de resistência e luta por mais espaços para a comunidade LGBTQI  que botam um holofote sobre os pouquíssimos lugares que existem hoje para nos divertirmos em Salvador.

Na peça, Lobo, dono do teatro-bar Xampoo, decide fechar seus estabelecimento diante da atual situação dos espaços gueis da cidade. Uma trupe de jovens atores transformistas decide rebolar – literalmente -0 para salvar o espaço e constrói uma noite trash-cômica-dançante entre números, churrias, entrevistas e intrigas para provar a Lobo que Xampoo não poderá ficar fechada. A peça teatral discute a necessidade de espaços para que os LGBTQIs possam se encontrar para se divertir, se articular e, principalmente, existir.

Os atores que vivem o Rebola foram selecionados através da oficina Elementos da Arte Drag e Teatral, realizada pelo projeto em março e abril de 2016. Aprenderam a se maquiar, andar de salto e valorizar a arte. “Estou muito feliz”, disse, em meio às lágrimas Sullivã Bispo, que junto com Thiago Almasy atualmente faz sucesso nas rede sociais com o canal Frases de Mainha.

O diretor Thiago Romero, que já pensa em remontar o espetáculo depois da premiação, dedicou o prêmio para todas as bichas, principalmente as pretas.  “Rebola é fruto de amor. É um espetáculo que fala de bicha porque nós somos bichas sem problema. Somos corajosos. Ocupamos um beco que precisa ser ocupado. O centro da cidade está morrendo. Rebola é um espetáculo que não teve medo”, comemorou.

Outro espetáculo com temática LGBT que também concorria – O cordel encantado de Maria Cin-drag-rela – não ganhou mas deu orgulho igual ver o casting do espetáculo (todas drags montadíssimas) dando close no Teatro Castro Alves, que foi o grande homenageado da cerimônia de premiação  dirigida por Márcio Meirelles.

Muita luz para os espetáculos LGBTQIs que em 2018 tenham muito mais premiados! 

Ficha técnica – REBOLA
Texto: Daniel Arcades
Direção: Thiago Romero
Elenco: Hamilton Lima, Gustavo Nery, Fernando Ishiruji, Ricardo Albuquerque, Sullivã Bispo, Genário Neto, Thiago Almasy, Rodrigo Villa (na montagem atual a personagem é vivida por Victor Corujeira), Diogo Teixeira e Caíque Copque.
Direção Musical: Jarbas Bittencourt
Letras das músicas: Daniel Arcades
Arranjos: Jarbas Bittencourt
Coreografia: Edeise Gomes/ Elivan Nascimento
Figurino: Tina Mello
Figurinista Assistente: Luiz Santana (Rainha Loulou)


Iluminação: Luiz Guimarães
Maquiagem: Thiago Romero
Costureira: Saraí Reis
Preparadores: Valerie O’hara (Dublagem), Elivan Nascimento (Stilleto), Daniel Arcades (dramaturgia), Rainha Loulou (maquiagem e figurino), Edeise Gomes (composição coreográfica) e Thiago Romero (interpretação).
Direção de Produção: Luiz Antonio Junior
Realização: Teatro da Queda

CONFIRA OS VENCEDORES DO 24º PRÊMIO BRASKEM DE TEATRO:
ESPETÁCULO ADULTO: Rebola
ESPETÁCULO INFANTOJUVENIL: Avesso
ESPETÁCULO DO INTERIOR: Pariré, da Cia. OperaKata (Vitória da Conquista)
DIREÇÃO: Rino de Carvalho, por Mágico Mar
ATOR: Igor Epifânio, por Egotrip
ATRIZ: Simone de Araujo, por Mágico Mar
TEXTO: Daniel Arcades, por Rebola
REVELAÇÃO: Alisson de Sá, pela direção de Malva Rosa
CATEGORIA ESPECIAL: Maurício Pedrosa, pelo desenho de cenário do espetáculo Mágico Mar

Veja fotos (by Betto Jr) da premiação>>>

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