Não é novidade nenhuma que a busca pelo dinheiro/atenção do público LGBTQ+ é o desejo de muitos artistas já que a nossa fidelidade aos nossos queridxs é intensa e gera muitos lucros transformados em sucesso e dinheiro. Honestamente não vejo nenhum problema nisso. Contudo, isso vira problema quando falta uma coisa chamada COERÊNCIA!
Foi o que aconteceu com o cantor carioca Nego do Borel. Ele gravou clipe no Morro do Borel, na Zona Norte do Rio e onde foi criado, para gravar o clipe do seu novo single “Me solta”. Nas cenas, o funkeiro aparece encarnando uma personagem com roupas ditas femininas, com direito a bolsa e salto alto vermelho, e rebola muito para encarnar a personagem Nega da Borelli.
“Hoje eu tê gravando meu clipe aqui na comunidade do Borel… Encarnei a personagem”, escreveu Borel no dia da postagem ao visitar o set de gravações. A faixa tem previsão para chegar às plataformas de streaming e também ter o vídeo disponibilizado no YouTube, logo no início de julho.
O problema é que, ao mesmo tempo que ele flerta com a população LGBTQ+, o cantor é apoiador de Jair Bolsonaro – deputado federal e pré-candidato à Presidência da República que é um ferrenho opositor a qualquer respeito aos direitos humanos e às expressões e identidades de gênero.
“Que isso, moleque. Tá sedutor, mané” escreveu Nego do Borel nos comentários do instagram de uma foto do parlamentar cortando o cabelo. Além do comentário, o funkeiro aparece em um clique ao lado de Bolsonaro e um de seus filhos, Flávio Bolsonaro.
O apoio ao Bolsonaro não faz jus a um artista que quer dialogar com o público LGBTQ+. Soa de forma fake, forçada e desnecessária. É uma estratégia errada de marketing. Isso é o problema de quando algo não é feito de forma natural e quando o artista não tem na sua essência a verdadeira diversidade.
Pelo visto, Nego do Borel não ouviu direito os conselhos e nem seguiu o exemplo de Anitta – sua madrinha e mentora. Nego, assim como Anitta, é heterossexual. Não há nenhum problema em um artista hétero desenvolver produtos e estéticas pela diversidade, mas não dá para fazer isso de forma aproveitadora. É preciso ter ENGAJAMENTO e COERÊNCIA de atitudes.
O comportamento de um artista que quer ser abraçado pelos LGBTs não deve ser o de Nego do Borel. Não basta apenas ser bonitinho, postar foto de sunga branca, se ‘vestir de mulher’ e falar que os viados são legais. É preciso vestir a camisa em todos os sentidos e, nesse momento, se colocar ao lado de um dos mais emblemáticos opositores da população LGBTQ+ é manchar essa camisa de sangue – especialmente do cada LGBT que é morto diariamente no Brasil pela cultura do ódio propagada por discursos extremistas e excludentes como os defendidos por Bolsonaro.
Não acho que as pessoas devam ser crucificadas eternamente por um ato e acredito que cabe, nesse momento, que Nego do Borel se posicione. Ele precisa escolher um lado. Do contrário ele ficará completamente descredibilizado especialmente pelos fãs LGBTs.
Esse vídeo abaixo não é o clipe oficial mas mostra o artista ‘treinando’ para o clipe