Se você acha que falar de racismo é mimimi pode parar de ler esse texto agora. Acompanho o programa Big Brother Brasil (Rede Globo) desde sua primeira edição nos idos de 29 de janeiro de 2002. Desde lá, o programa viu transformações sociais no país mas, salvo raras exceções, também viu o público premiar essencialmente pessoas brancas com o título ‘de grande irmão do país’ – em tradução livre do nome do reality show.
Para se ter uma ideia dos 22 vencedores do programa somente 5 se autodeclararam como pessoas pretas ou pardas. Ou seja, 77% dos vencedores escolhidos pelo público foram pessoas brancas. Isso reflete essencialmente o racismo institucionalizado na nossa sociedade, onde nós, pessoas negras, acabamos não sendo lidos socialmente como gentis, afáveis e dignos do carinho do público.
O momento histórico que está fora dessa curva racista faz muito tempo. Durante três edições seguidas tivemos três pessoas negras vencedoras: Cida Santos( BBB 4), Jean Wyllys (BBB 5) e Mara Viana( BBB 6). Depois disso, foram 12 anos de hiato e que só voltou a consagrar uma pessoa negra no BBB 18 com Gleici Damasceno e no BBB 20 com Thelma Regina. No 21 e 22, novamente brancos ganharam, mesmo com o programa aumentando consideravelmente o número de pessoas negras como participantes.
Na edição de 2023 – que não entrou tanto assim no gosto popular, diga-se de passagem – o destino parece ser o mesmo. Para se ter uma ideia, nos últimos seis paredões, as eliminações escolhidas pelo público foram todas de pessoas negras em sequência: Gabriel Santana, Marvvila, Fred Nicácio, Cezar Black, Sarah Aline e Domitila, que saiu nesta terça-feira (18).
Agora, de negros na casa só sobraram a cantora Aline e o biomédico Ricardo Alface. O sergipano, inclusive, já está no paredão correndo risco de ser eliminado – também deixando a maioria de pessoas brancas na busca pelo prêmio milionário de novo.
É algo a se pensar e refletir pois – pelo bem ou pelo mal – o programa acaba sendo o reflexo da nossa sociedade. Você pode até dizer que tiveram pessoas brancas na história do programa que mereceram o título – sim, concordo. Algumas! Mas, posso até listar uma quantidade enorme de participantes não-brancos que mereciam tanto quanto ou mais.
O que explica que num país onde a população é majoritariamente negra (75%, segundo o IBGE) termos um grande volume de pessoas brancas idolatradas na TV? Só o racismo explica. Infelizmente.
A branquitude é privilegiada e a identificação de parte do público com essas pessoas – em alguns casos como estamos vendo no BBB 23 validando comportamentos e discursos vis – diz muito sobre o que uma parte da população do Brasil pensa. É triste, lamentável e decepcionante. Reflitam!
Relembre todos os vencedores do programa:
Kléber Bambam, ganhador do BBB 1
Rodrigo Leonel (Cowboy), ganhador do BBB 2
Dhomini, BBB 3
Cida Santos, vencedora BBB 4
Jean Wyllys, BBB 5
Mara Viana, ganhadora do BBB 6
Diego Alemão, BBB 7
Rafinha, ganhador do BBB 8
Max Porto, BBB 9
Marcelo Dourado, ganhador BBB 10
Maria Melilo, BBB 11
Fael Cordeiro, vencedor do BBB12
Fernanda Keulla, BBB13
Vanessa Mesquita, BBB14
Cézar Lima, ganhador do BBB15
Munik Nunes, vencedora do BBB16
Emily Araújo, BBB17
Gleici Damasceno, ganhadora do BBB18
Paula von Sperling, BBB19
Thelma Regina, ganhadora do BBB 20
Juliette Freire, BBB 21
Arthur Aguiar, ganhador do BBB 22