Cabelo rosa, piercing e um estilo ‘rock in roll’ pouco visto nas mulheres do axé. Foi dessa forma que Alinne Rosa surgiu no cenário da música baiana em 2013. De lá pra cá não só os cabelos mudaram de cor, tamanho e forma. Saiu da banda Cheiro de Amor, virou empresária da sua própria carreira e se conectou fortemente com o público LGBTQIA+ e com as pautas feministas. Muita coisa mudou, mas uma não muda: a atitude.
Adepta de meditações, terapia e cuidados com a saúde física, Alinne – que este ano desfilará no Carnaval de Salvador pela segunda vez no bloco O Vale – destaca que sua transformação artística veio paralela às mudanças pessoais.
“Mudou tudo. A mudança interna pessoal automaticamente influenciou a mudança da Alinne artista. Nesse tempo eu me dediquei mais ao autoconhecimento, as curiosidades do nosso ser e com isso eu fui me interessando por muitas coisas e me incomodando com muitas outras na minha vida pessoal. Comecei a ver uma discrepância grande no que eu mostrava como artista e no que eu era como pessoa. Às vezes, a gente vive um personagem social e isso me incomodava muito. Hoje o que mais me interessa fazer na vida é juntar esses dois extremos e cada vez mais mostrar o que eu realmente sou”, conta Alinne destacando que esse processo é longo.
“As pessoas vêm hoje uma junção das duas Alinnes. Uma que começou a se descobrir internamente e outra que é Alinne cantora que pode falar as questões que tocam outras pessoas. Isso é uma busca constante. Eu sempre acreditei na terapia para que todo mundo possa se entender um pouco mais. Eu me encontrei também na meditação. Tem três anos que descobri a meditação e senti que eu virei uma chave dentro de mim. A meditação também é uma terapia. É um universo infinito e foi daí que essa mudança ficou mais aparente para as pessoas também no sentido artístico”, destacou Alinne.
Essa transformação interna fez com que Alinne conquistasse lugar de admiração entre mulheres e pessoas LGBTQIA+ pelos seus posicionamentos em prol da diversidade e relacionados às questões de gênero.
“Eu me tenho como exemplo de uma pessoa que passou por diversos relacionamentos abusivos. Como a sociedade é muito opressora eu também já fui muito oprimida em achar que eu era errada, que eu tinha que me adaptar naquela realidade machista. Quando eu falo disso eu falo diante das minhas experiências pessoais. Eu defendo que as mulheres precisam ser fortes e se defenderem do machismo. Eu não tinha noção de como o feminismo ia me aflorar essa força que eu tinha e que estava escondida. Eu quero mostrar através do meu exemplo que as mulheres não estão sozinhas. Muitas mulheres são colocadas pela sociedade numa posição que elas não podem vestir determinada roupa ou falar palavrão. Se não for assim não é aceita e é colocada no rótulo de puta. Eu trabalho desde cedo, sou uma mulher da porra. Mas, muitas vezes eu me anulei para tentar me encaixar numa sociedade opressora. Demorei para entender o poder que cada mulher tem e hoje quem quiser que se adapte a nós”, reflete Alinne.
Veja vídeo completo da entrevista de Alinne par ao Me Salte:
Alinne faz questão de frisar que sua conexão com o público LGBTQIA+ aconteceu de forma natural e culmina em parcerias a exemplo do bloco O Vale, que é comandado pelo Grupo San Sebastian dos sócios baianos André Magal e José Augusto Vasconcellos. “Foi uma questão de química, de atração à primeira vista. Eu acho que o público se identifica com o que ele é. O público LGBT é muito oprimido e tem muita coisa reprimida, mas no fundo tem a alegria de viver e a liberdade. Eles se identificam comigo por ser uma mulher livre que fala com que pensa”, explica Alinne.
“Eu me sinto abraçada de verdade [pelo público LGBT] e eu tenho uma coisa de ser aquela amiga que compra a briga. Eu levo tudo de forma muito real. Eu me sentiria falsa e mentirosa se não lutasse pelo meu público. Eu tomo a causa como se fosse minha. Na minha vida pessoal e profissional eu levo isso”.
Festa do Vale
Em 2019, no seu 16º Carnaval, Alinne terá como um dos principais destaques da sua folia o sábado no circuito Barra-Ondina quando puxará pelo segundo ano consecutivo o bloco O Vale. Ano passado, o bloco teve fantasias esgotadas.
“Vamos Ativar” é o nome da música, composta pela própria Alinne, que é a aposta dela para o Verão. Na música, Alinne conta um pouco da alegria do Carnaval de Salvador, dos encontros pelas ruas soteropolitanas e dos encantos da folia baiana.
“Fiz essa música pensando em meus foliões, que estarão vestidos de super-heróis. Falo de felicidade na rua, dos encontros que temos no meio da multidão e que mexem com a gente e da energia lá em cima que o nosso Carnaval proporciona”, contou .