Por Gabriel Moura*
Recentemente um amigo me disse que a fofa e romântica música de Fágner “Borbulhas de Amor” na verdade se refere ao desejo de realizar sexo anal. Se isso é verdade, não sei. Mas fato é que no último sábado (27) eu estava rodeado de vários peixinhos à procura de um límpido aquário para mergulhar e, em meio a toda essa ânsia das pessoas em passar a noite em claro dentro de alguém, eu era um peixe fora d’água.
Mas, para contar essa saga de como um hétero foi parar numa suruba gay, preciso voltar alguns dias antes, mais precisamente para o dia 22 de abril. Estava eu pianíssimo escrevendo uma matéria quando Jorge Gauthier (chefe de reportagem do Correio e coordenador do Me Salte) me chama para fazer uma proposta indecente: cobrir um evento numa sauna gay.
Até aí ok. A questão é que não se tratava de uma ocasião qualquer. A Olympus (nome da sauna) estava completando um ano e, para celebrar a data, convidou junto com a marca de roupas íntimas Danúbio For Man um famoso ator de pornô gay chamado Estevão para fazer uma apresentação de sexo ao vivo. Além da performance, durante uma hora ele deixaria quem quisesse adentrar a ‘sua porta dos fundos’. Sim, eu fiz a mesma cara de choque que você está fazendo agora ao saber deste detalhe.
Topei cobrir o evento. Meu pensamento era: “na pior das hipóteses esta será uma história legal para se contar e se alguém der em cima de mim, pelo menos aumentará minha auto-estima”.
Eu não pensei muito no assunto até que chegou o fatídico dia. Quando acordei e abri os olhos parece que a ficha caiu. “Meu deus, eu vou para uma suruba”, pensava eu quase em desespero. Era tarde demais para desistir, mas não parava de projetar diversos cenários que envolviam desde pessoas me apalpando a líquidos voadores indesejáveis se projetando em minha direção.
Apesar de toda a minha apreensão, quando finalmente criei coragem e cheguei no local, achei o local extremamente tranquilo. Se não fosse pelos homens desfilando com nada além de uma toalha amarrada na cintura, eu diria que este seria um lugar maravilhoso para apenas ir tomar umas com os amigos. No bar da casa vende-se cervejas, vinhos, drinks e até salgados. Lá não se passa necessidade, sempre se arruma algo para colocar na boca.
Outro detalhe interessante é que a sauna fica numa rua residencial do Dois de Julho. Enquanto ocorria o evento, uma galera pegava um baba na quadra localizada atrás da Olympus e, na casa ao lado, ocorria um aniversário. O que até se complementou com a performance pois quando chegou no parabéns, a hora do “derrama senhor, derrama sobre ele…” foi bastante sugestiva.
O lugar tem as decorações mais variadas. Desde fotos de gladiadores da Roma Antiga, que usavam o mínimo de roupa possível, a até um altar com imagens hindus. Havia a sauna (óbvio), uma sala escura com um sofá, um outro cômodo onde uma tv exibe filmes de pornô gay e umas mesas onde sentei com um amigo meu que me acompanhou na empreitada, este gay, para esperar a hora do show.
Enquanto aguardávamos a chegada de Estevão, um dos garotos de programa sentou-se à mesa e trocou umas ideias com a gente. Na conversa, ele revelou que cobra R$ 100 por programa e costuma realizar entre dois e quatro por noite, trabalhando seis vezes por semana. Ao mesmo tempo que eu fazia os cálculos mentalmente de quanto ele ganhava por mês, batia uma leve vontade de seguir a mesma carreira dele.
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Outro gogoboy se juntou a mesa e, quando ele abriu as pernas, seu membro se apresentou, devidamente já para cima e pronto pro crime. Quando ambos os garotos saíram meu amigo comentou: “existe uma maneira fácil de descobrir quais são os acompanhantes. Só ver quem está excitado sempre”. Comecei a olhar em volta e vi que ele tinha razão. Tinha alguns que pareciam que iam sair da boate direto para o aeroporto, devido a mala que carregavam.
Quando já se passava das 20h30 chegou o momento que todos esperavam. Trajando uma roupa cujo objetivo nem passava perto de ser esconder as vergonhas, Estevão se posicionou em meio das cadeiras do bar. A casa estava lotada e cerca de 100 pessoas fizeram um círculo para observar toda a ação atentamente.
Dois garotos de programa começaram a beijá-lo e chupar seu pescoço, peito… E só. O melhor estava por vir. Um musculoso homem com uma aparência que lembra a de um índio americano entrou em cena. Ele usava uma fantasia de gladiador, com capacete e uma sandália Havaianas. Imagino que na Roma Antiga não usavam este tipo de calçado, mas ali o que menos importava era o que estava no pé…
Sem enrolação, Estevão partiu para a ação e cuidadosamente retirou a cueca do boy. Começou a fazer o sexo oral e passaram-se os minutos. 5, 10, 15, 20… A demora para sair da entrada e partir para o prato principal me estranhou e começou a incomodar o público. Até que pôde se notar que algo fugiu do script: o cabra broxou.
Ok. É normal nosso amiguinho não comparecer em algum momento da vida. Acontece com todos, inclusive já rolou comigo. A questão é que o homem estava lá com apenas uma função: colocar o artilheiro para pegar o baba. E o pior, quando você broxa sozinho no quarto com o parceiro ou parceira é uma coisa, já na frente de 100 pessoas é outra. “Fica duro aí, porra”, gritava um dos espectadores mais empolgados da platéia.
Visivelmente desconfortável, o garoto com aparência de índio falou no ouvido de Estevão, provavelmente explicando que hoje não teria como atuar. Depois eu conversei com umas pessoas da casa e descobri que foi passada uma instrução de que ele não deveria fazer nenhum programa antes da apresentação e o bichinho descumpriu a ordem e o fez três vezes. Imagino que por conta do “mole”, o rapaz levou uma “dura” da direção.
Voltando ao principal, do nada surgiu um herói anônimo emergiu em meio a multidão. “É um pássaro, é um avião?”, se perguntava meu amigo. Não, era um ser humano com um invejável dote, devidamente protegido com a camisinha, que chegou, não deu nem boa noite, empurrou pro lado o Molenga e penetrou com entusiasmo no ator, que já estava devidamente de 4, pronto para o combate. A cena levou a platéia ao delírio. O barulho parecia a celebração de um gol. Os gritos eram de “arrasou, viado”, “broca ele, bicha” e “vai fundo!”.
Além do ‘salvador da pátria’, outras duas pessoas do público tomaram coragem e entraram em combate. Alguns minutos depois, até o broxa se recuperou caiu pra dentro também. Mas nesta hora o público já estava deixando a apresentação interativa, talvez para procurar uma ação que os incluísse também.
Durante a apresentação de sexo ao vivo, dois outros garotos de programa da casa estavam também disponíveis para quem quisesse se deliciar com eles. Mas houveram poucos voluntários, talvez pela claridade e por estarem a céu aberto. Porém, em determinado momento começou a chover e a performance foi transferida para o quarto escuro. Foi aí que o babado começou.
A escuridão parece ter feito as pessoas se libertarem todos se contagiaram. Em alguns minutos o local virou uma verdadeira suruba. Exatamente desta maneira como você está imaginando. Era trocação aqui, gente se chupando acolá, pessoas se comendo…
No meio de todo rala e rola, estava Estevão. Os clientes realmente se aproveitaram da possibilidade de poderem transar livremente com um ator pornô. Eu observei ao menos dez homens em volta dele. Ao observar essa cena pude constatar que, de fato, o cabra não é frouxo, apesar de uma parte do corpo dele provavelmente ter ficado assim após tanto movimento nele.
A Páscoa já tinha acontecido há uma semana, mas a verdadeira festa do ovo rolava ali, na minha frente.
Porém, por toda a ação estar ocorrendo numa pequena sala lotada, o calor começou a ficar insuportável. E eu também já estava um pouco embriagado por conta do vinho que bebi no open bar. Ao sentir algumas mãos passarem pelo meu corpo me lembrei do ditado “de bêbado não tem dono” e me lembrei que aquele era um local onde esta frase realmente poderia fazer sentido. Então decidi deixar o ambiente.
Eu estava com medo. Muito disso devido ao preconceito com o local, admito. Ao chegar lá percebi que não era nada disso do que imaginava. Os frequentadores são pessoas super de boa, engraçadas, divertidas. Há muito um clima de brincadeira e descontração no lugar. Todos foram muito respeitosos, não vi nenhuma briga ou discussão.
Imagino que a maioria dos frequentadores do local já se conhecem e têm entre eles um clima de amizade. Mais do que buscar sexo, na sauna os homens vão para conversar, beber, se divertir. É quase um rolê de sexta a noite num barzinho, com a diferença de que todos estão de toalha e eventualmente alguém vai sair da mesa para transar.
Eu tranquilamente iria novamente para lá. Não realizei todas as atividades que a sauna oferece, mas mesmo assim tive uma das noites mais engraçadas da vida. A única vez que fui abordado ou tocado foi na hora do sexo grupal, mas aí o errado não era eles, que faziam o que deveria ser feito, mas eu que era um peixe fora d’água. Como diria a música Vira-vira, dos Mamonas, “neste raio de suruba, já me passaram a mão na bunda e ainda não comi ninguém”.
*com supervisão de Jorge Gauthier