Se você andou circulando na internet já deve ter visto algum vídeo de Sulivã Bispo na pele de Mainha (do canal do Youtube Na Rédea Curta). Esqueça isso e vá ao teatro ver uma outra face do ator. Neste mês de fevereiro ele fará quatro apresentações do espetáculo Kaiala, no Espaço Cultural da Barroquinha em Salvador.
Kaiala é a poesia que se movimenta para dar voz à memória de uma menina de 10 anos brutalmente assassinada por evangélicos sedentos pelo fim do terreiro ao qual a criança pertencia. Dentro da tradição bantu, (candomblé da nação Angola) Kaiala tem as águas como seu domínio, é a geradora de todas as espécies, inclusive da raça humana.
“Kaiala é um alerta do que não pode mais acontecer. Em tempos tão tristes para as comunidades de matriz africana que vem sofrendo diariamente com o racismo religioso no nosso país, esse trabalho busca trazer força e discernimento para que possamos resistir. O espetáculo fala muito de mim, dos meus mais velhos, das minhas lembranças na casa de minha Avó, dos ensinamentos do terreiro, e por isso me toca tanto”, contou Sulivã ao Me Salte.
A dramaturgia traz a visão da divindade de maneira poética e contemporânea, fazendo um paralelo com o momento tão delicado de intolerância religiosa no país, que vem atingindo em sua maioria os adeptos dos cultos de matriz africana. Em solo de estreia, Sulivã foi indicado na categoria de melhor ator do prêmio Braskem de teatro pela atuação em Kaiala, espetáculo que o faz imergir em um novo universo teatral e narra a trajetória da menina interpretando três personagens, a avó e ialorixá, o irmão de santo e, por último, a evangélica.
“Kaiala é bastante desafiador, já que interpreto três personagens diferentes, e enquanto ator, negro e candomblecista, subo no palco não apenas para atuar, mas para dar continuidade à luta dos meus ancestrais, fazer rir e também conscientizar. Talvez por isso Kaiala me toque tanto, essa é um peça diferente, ela ressignifica o riso e a dor. Sua força me impulsiona para jamais desistir”, afirmou Sulivã.
Em uma mescla entre o real e o fictício, a trama é costurada a partir da função que cada personagem tem na vida da protagonista. A avó, por exemplo, traz o contexto religioso. A questão de gênero, além do racismo, são representados pela figura da evangélica.
Com direção de Thiago Romero, coreografia de Nildinha Fonseca, e direção musical assinada por Sanara Rocha e Luciano Salvador Bahia, o espetáculo retorna, após quase dois anos de sua estreia, em curtíssima temporada.
A história de Kaiala será contada em quatro apresentações, no Espaço Cultural da Barroquinha. Nos dias 9, 10, e 17 de fevereiro, o espetáculo tem início às 17h. No dia 16, às 18h, sem atrasos. Os ingressos custam R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia) e podem ser adquiridos através do Sympla ou na bilheteria do local.