Mais amor, por favor

Os ombros de Ingridy não são tão fortes quanto os de Caio. Sua boca suave não tem o mesmo brilho da sensual Nágila. Mas, a força de suas palavras reverberam com a mesma intensidade da mulher-macho, Maria de Lourdes. Caio, Nágila, Maria são algumas das expressões artísticas vividas pela estudante de Direito, Ingridy Carvalho, de 23 anos, que usa as suas performances como uma maneira de questionar as imposições de gênero, masculinidade e feminismo. São suas armas para lutar contra o preconceito.

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Caio é sedutor e romântico Foto: Acervo Pessoal

Na noite de Salvador, Ingridy ganhou destaque quando passou a dar vida ao personagem Caio Roberto, quando se tornou, segundo ela, a primeira drag king em atuação na cidade. Caio surgiu em 2013 quando estrelou o espetáculo Cabaré Drag King, montado pela produtora Adriana Prates, como quem Ingridy namora desde então. Em Salvador não tinha outras meninas que faziam drag king. É uma realidade mais comum fora do Brasil, completa Ingridy. Caio Roberto, que é um homem de não muito mais que 1,7m, bem vestido, sedutor e está  prometido para o casamento com diversas diversas drag queens de Salvador.

Veja imagens de Ingridy atuando como Caio Roberto

Para além dos palcos, Ingridy tem interesse por direitos humanos “ onde pretende trabalhar quando se formar em Direito – e militância LGBT. Quanto mais mulheres, gays, lésbicas e travestis ocuparem esses lugares de poder mais poderemos ter formas de lutar pelos Direitos Humanos e Igualitários, explica Ingridy que é soteropolitana.

Ingridy como Caio Foto: Ricardo Santiago

Ingridy como Caio
Foto: Ricardo Santiago

Cursando o quatro semestre de Direito, Ingridy fala que leva sempre as discussões para o seus espaços. O Direito é um ambiente machista, misógino e preconceituoso. No começo da faculdade fui tratada como revolucionária pelas minhas posturas e bandeiras. Mas tem coisas básicas que as pessoas precisam saber. Hoje, a galera me respeita muito e tem medo de falar alguma besteira perto de mim. De revolução não tem nada, mas basta ser humano e respeitar o outro, explica Ingridy que é formada pelo curso livre de Teatro da Universidade Federal da Bahia.

Arte e militância
A drag relembra que quando assumiu sua sexualidade  diante da família enfrentou preconceitos. Quando eu me assumi tinha 18 anos e não foi uma coisa muito positiva na minha família. Ouvi de pessoas que me amam muito que não era mais para olhar para eles. Mas, por sorte, isso não durou muito. Acabei saindo de casa para morar sozinha e depois de um tempo me reaproximei, conta Ingridy ressaltando que conquistou o apoio da família quanto à   sexualidade. Hoje minha mãe liga mais para as minhas namoradas até mais do que pra mim, contemporiza.

Veja imagens de Ingridy atuando como Nágila GoldStar

Frequentadora do Beco dos Artistas, tradicional espaço LGBT no Centro de Salvador, desde os 15 anos, Ingridy se reserva o direito de passar algumas noites em casa para deixar que suas criações possam ir à  s ruas. Drag é resistência de sexualidade. Não foi fácil aceitar uma mulher se tornar drag queen, comenta ela referindo-se ao preconceito que encarou pela sua atuação ocupar espaços que até então eram só de homens vivendo personagens femininos.

Entre espetáculos e performances, Ingridy colecionou diversos alter-egos, mas sempre doa um pouco de si para a compor uma nova pessoa. Acho que Nágila tem uma sensualidade que é minha, mas está potencializada. Caio, por outro lado, gosta de desconstruir as questões de gênero como eu. Diferentemente do que possa parecer, não é apenas a atriz que se doa aos seus personagens. Muitas drags que conhece Ingridy se dirigem a ela como Caio, mesmo quando ela não está montada, e mostram que também há nela algo que suas criações deixaram.

Veja imagens de Ingridy em cena:

*Colaborou Matheus Buranelli, integrante do programa Correio de Futuro

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