A drag queen Nina Codorna sagrou-se na madrugada deste domingo (16) a primeira vencedora do concurso Estrela Marujo, comandado por Bia Mathieu no bar Âncora do Marujo, no centro de Salvador.  Esse não é o primeiro concurso que Nina conquista. “Ganhei um concurso de novatas revelação chamado Festival Drag Queen e um outro numa viagem que realizei aos Estados Unidos no concurso de dublagem “Drag Wars” no bar Rise, em Nova Iorque comandado pela drag queen Shequida Hall. Mas, quero deixar claro que não me importo em ter ou não ter títulos. Para mim é importante a participação e o aprendizado que você tira de cada experiência, seja competitiva ou não”, afirma.  Nina completou um ano de apresentação nos palcos em agosto. “A arte drag me salvou em um ponto de minha vida onde eu pude me expressar artisticamente quem sou. Tem sido um caminho árduo, exijo muito de mim, porém ago muito gratificante”, conta.

Para o número da final, onde viveu a bruxa Euvira era usou de suas referências pessoais e artísticas que são oriundas do cenário musical de filmes infantis e da Broadway. “Sou fã desse tipo de narrativa e acredito que dá pra fazer muita coisa legal nessa perspectiva para números lúdicos. Além disso curto muito o ambiente clubkid/tranimal e sempre me inspiro em artistas que trazem uma estética do belo por outra ótica. Resolvi contar a mesma problemática que a bruxa Elvira sofre no filme. Ela é julgada por uma série de comportamentos, modos de se vestir e se comportar ao chegar numa cidade do interior que pensa de forma retrógrada. Porém repaginei e formatei tudo para um contexto atual. Chamei pessoas que vivem de arte e tem propriedade e espaço de fala para evidenciar essa causa e me sinto extremamente honrado pela presença e apoio delas!”, argumenta Nina, que ganhou R$ 2  mil em dinheiro como premiação.

Nina Cordorna em Nova Iorque - foto: Divulgação

Nina Cordorna em Nova Iorque – foto: Divulgação

Veja abaixo o relato de Nina Codorna sobre o que significa essa vitória na sua carreira
“Ninguém consegue lidar com ela. Ela já gosta de procurar uma briga. Quero ver ela sem esse Photoshop… Na foto tá linda, mas no concurso tava com a maquiagem toda derretida. Ela é só visual. Ela é cheia do dinheiro. Ela é uma pessoa com problemas patológicos. Ela coloca áudio de aplausos no fim dos seus vídeos.” Essas são algumas das frases que pessoas que não me conhecem e que tem pessoalidades mal resolvidas comigo. Eu não me expressei em momento algum aos comentários destrutivos. Porém recentemente um vídeo foi exibido na final de um concurso de talento do qual participei e desisti na primeira semana por discordar da forma como eu estava sendo hostilizado pelos participantes. Este vídeo colocava a minha imagem num container de lixo. Só então eu resolvi me expressar e expor uma hashtag “DragQueenNaBahia” com a imagem. Critiquei a produção do concurso, a apresentadora e a imagem das 3 drag queens que participaram do ocorrido. Até acusada de xenofobia eu fui, quando na verdade sou nordestino e sim, este é meu espaço de fala. Só que as pessoas não entenderam e elas não vão se questionar, porque existe um movimento mainstream do “fazer drag” que valoriza a palavra drag mais do que a palavra arte. Para mim drag não é isso. Drag não é estar vestida com o “estilista das estrelas” e com a melhor peruca. Drag não é “baphão”, climão, e a cultura de shade americanizada. Quando voltei de Nova Iorque fui questionado e sempre afirmei que “não devemos nada a cultura de lá”. Aqui temos um movimento genuíno do fazer drag que não é evidenciado por essas pessoas em sua maioria hegemônica branca, opressora e de estética eurocentralizada, de uma cultura de massa enlatada e de fácil mastigação. Infelizmente valorizam mais a palavra “drag” do que a palavra “arte” quando na verdade o fazer drag é uma forma de expressão artística. Por isso continuarei questionando, além das pessoalidades. Minha performance foi um trabalho de construção lúdica, musical, acima de tudo uma forma de entretenimento. Porém envolveu um trabalho árduo de todos os participantes e tenho imenso orgulho de ter chamado Malayka SN (que é um artista que me representa de todas as maneiras possíveis) junto com Suzzy D’Costa (que tem mais tempo de estrada e que representa uma outra vertente do fazer arte). Eu gostaria de ter chamado muitas outras monstras do rolê. Foi uma homenagem à  s drags clubbers, estranhas, monstras para dizer sim que é possível incluir estas pessoas no rolê e que #DragQueenNaBahia TAMBÉM é isso.

17 de outubro de 2016

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