Por Jenny Müller*

Vivemos num mundo que nos obriga a seguir certos padrões, impostos de modo que tudo o que não faz parte deles é tido como errado. Esses padrões foram construídos com um único propósito, o de criar uma hierarquia onde aqueles que fazem parte deste modelo têm privilégios sobre os que não fazem. A mensagem que essa sociedade em que cresci passa é a de adequação, se você não pertence ao padrão adeque-se!
Bem, a minha história é de como eu corri para o lado oposto ao qual me mandaram seguir, de como eu gritei “Não!” em meio a um mundo cheio de sussurros de sim. Me determinaram no nascimento, criaram um mundo de expectativas sobre mim, disseram quem eu teria que me tornar. Sabe o que vi nisso? Vi uma vida presa numa caixa com um manual de instruções e a vida é muito mais que isso. Quando nasci disseram que eu era um homem, pois, eu tinha nascido com um pênis e nessa visão de mundo as pessoas tem que agir de acordo com sua genitália. Eu disse uma vez em um trabalho que “Gênero é a forma como permitimos ver nossas almas” e eu reformulo essa frase para “Gênero é a forma das nossas almas e de como transmitimos ela ao mundo”. E é neste ponto que eu quero chegar! Nós não somos pênis ou vaginas. Pois é não somos!

O ser humano é muito mais diverso e complexo do que um simples órgão genital, nós somos nossas almas e uma alma é sempre livre para ser. E ser de fato o que se é. Então é assim que eu assumo que eu digo nunca fui homem e nunca pretendi ser. Sou uma mulher trangênera, nasci num corpo que tem o sexo biológico oposto ao meu sexo mental, meu gênero. Sou uma das pessoas que fugiram do padrão, uma das que quebraram as normas impostas. Somos muites (uso aqui a letra E para não usar os artigos que definem gênero, A e O) e se somos, estamos em todos os espaços e em todos os setores, basta você olhar com atenção.

Nós somos revolucionáries e sabe qual é a nossa revolução? Ser quem somos e se orgulhar disso. Nós ferimos muitos aspectos da sociedade e isso porque como eu disse no começo as normas foram feitas para privilegiar poucos e lutando contra esse sistema, lutamos por um mundo mais justo. Onde o amor não será discriminado, onde a cor será apenas um detalhe pessoal, onde religião e crença não serão muros de separação, onde o gênero não será um fator de exclusão.

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É essa a mensagem que eu tenho para passar sobre ser trans num país que mais assassina essa população. Ser e o simples fato de ser já nos coloca em campo de batalha e é isso que motiva a seguir em frente, na contramão das normas, para que nenhuma vida seja diminuída ou destruída pelo preconceito. Pelo medo da liberdade do outro e da perda de privilégios. Sou trans e tenho orgulho! Espero que alguém que esteja fora dos padrões e leia isso saiba que não está sozinho, somos muites e unides somos invencíveis.

Jenny Müller tem 21 anos é maquiadora, atriz, performer, modelo, feminista interseccional e estudante do BI em Artes da UFBA.
Crédito da foto: Taylla de Paula/Divulgação

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