As frases que você ouve a cada instante são retiradas de relatos de mulheres estupradas. Gravadas por outras vozes, para preservar a maioria das vítimas, que não quis se identificar, mas são relatos reais. E não, você não tem como interrompê-las. Assim como as vítimas não podem interromper os estupros.


O mapa reúne 116 ocorrências de estupro registradas em Salvador, só este ano. Nele, você pode ver se algum crime foi registrado no seu bairro — ou na sua rua.

Para preparar o mapa, ao longo de três meses, percorremos todas as 16 delegacias territoriais de Salvador pelo menos uma vez — em algumas, chegamos a bater na porta cinco ou seis vezes. Além disso, também fomos às duas Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deams, em Brotas e em Periperi), à Delegacia Especializada de Repressão a Crimes contra a Criança e o Adolescente (Derca) e à Delegacia do Adolescente Infrator (DAI). Reunindo também casos que foram noticiados — com maior ou menor repercussão — catalogamos os casos de estupro por localidade, data e principais circunstâncias. Para preservar a privacidade das vítimas, omitimos seus nomes, assim como de seus algozes, em todas as ocorrências mapeadas.

As ocorrências são apenas 1/4 das 442 registradas este ano pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) em Salvador — e, certamente, muito aquém do número real de casos, já que — como mostramos na primeira reportagem do especial, nove em cada dez mulheres estupradas não denunciam o caso — mas é um esforço para tirar da invisibilidade alguns dos casos que se perdem no longo percurso entre a denúncia e a justiça.