Cantador, compositor, agregador, o mineiro Dércio Marques (filho de mãe brasileira e pai uruguaio), Dércio Marquesproduziu talentos como Elomar e Diana Pequeno e tornou-se um elo importante entre o Brasil e os movimentos musicais latino-americanos de resistência política dos anos 1960. Dércio Marques: da Latinoamérica ao Brasil de dentro é o nome do livro da artista e pesquisadora Letícia Bertelli, que o Instituto Çarê lança dia 19 de agosto, às 18h.
Fruto da pesquisa de mestrado em música de Letícia Bertelli, o livro costura a análise da obra de Marques – que morreu em 2012, aos 64 anos – com estudos anteriores, entrevistas concedidas por amigos e parentes e memórias pessoais. Revisitando o trajeto errante e a “trama de contatos musicais” do artista, a autora mostra como se recria, nele, a figura tradicional do cantador, ligada à cultura rural e às rodas de cantoria, e especula sobre a gênese de seu repertório, “calcado no profundo sentimento de solidariedade”. Desdobrando-se em várias direções, busca dar conta de um criador inquieto, que não separava trabalho artístico, posicionamento político e prática de vida. “Dércio era desassossego puro”, escreve Letícia.
As andanças do artista se adensaram em um vasto repertório de composições próprias e interpretações de terceiros, reunidas em discos como Terra, vento, caminho – lançado em 1974 pela Discos Marcus Pereira, que foi chave na difusão de repertórios históricos brasileiros – e Fulejo, inspirado na tradição das congadas mineiras e da música do Vale do Jequitinhonha. Ao interpretar canções de Atahualpa Yupanqui em seu primeiro disco, Dércio ecoava o ideário de movimentos sessentistas como o argentino Nuevo Cancionero e o chileno Nueva Canción, que exortavam à valorização das tradições musicais populares e autóctones em reação à hegemonia das cultura de matriz branca, norte-americana e europeia.