Animado com a possibilidade de Caetano Veloso e Gilberto Gil aceitarem ser homenageados no Carnaval 2012, quando eles completam 70 anos, Fernando Boulhosa, Presidente da Associação de Blocos de Trios (ABT) e do Conselho Municipal do Carnaval e Festas Populares, já vive intensamente a próxima folia baiana.
Polêmico, sempre com opinião firme sobre qualquer assunto referente ao Carnaval, ele será reeleito para mais um mandato no Conselho. Em entrevista ao CORREIO, Boulhosa falou sobre a revitalização do Circuito Osmar Macedo (Campo Grande/Avenida) e da Praça Castro Alves, a reorganização dos circuitos Dodô (Barra/Ondina) e Batatinha (Centro Histórico) e a homenagem a Mãe Hilda, que dará nome ao Carnaval da Liberdade.
Ele também se diz contrário à cobrança de direito de arena que alguns dirigentes de blocos estão pleiteando junto aos camarotes. Explica que o Carnaval nos bairros deve ser totalmente repensado e elogia a chegada dos camarotes que, na sua opinião, são de fundamental importância para a folia. Confira.
Ainda faltam nove meses para o Carnaval 2012. Como andam os preparativos para a maior festa popular do planeta?
O Carnaval de Salvador não pode ser planejado em cima da hora, como vem acontecendo ultimamente. Ele tem que começar a ser planejado logo na Quarta-feira de Cinzas. Tem que ter a participação do Conselho, da Câmara de Vereadores, da Saltur, Bahiatursa e Secult. Todos juntos, prefeitura, governo e os empresários ligados à festa.
Há uma crítica generalizada de que o Circuito Osmar Macedo (Campo Grande) está sendo esvaziado com uma excessiva concentração no Dodô (Barra). O que está acontecendo?
O Carnaval precisa passar por uma reformulação muito grande. O circuito da avenida tem que ser repensado. Passar por uma mudança total. Assim como precisamos também disciplinar a Barra e revitalizar o Batatinha e a Praça Castro Alves. O Carnaval da avenida precisa de glamour. É um circuito bonito, único. E atrai muito o turista, que fica encantado. Porque Carnaval à beira-mar o turista tem nessas micaretas em Natal, Fortaleza, Aracaju. Veja que o Camarote do Campo Grande acabou. Assim como o Carnaval nos bairros. Não adianta armar um palanque e colocar atrações sem importância que o povo não fica e migra para a Barra ou Campo Grande.
Como você analisa iniciativas como a dos blocos de samba que transformaram a quinta-feira no campo Grande num dia bem concorrido?
Você vê que o Carnaval começa bonito na quinta-feira. Então, a cidade tem que ser liberada mais cedo e não às 23h. Porque é sempre sacrificante para esses blocos que se esforçam, atraem multidões, mas começam a desfilar muito tarde. Eles merecem um melhor tratamento. Assim como os blocos de matizes africanas. Eles são importantes e fundamentais. É por isso que nosso Carnaval é bonito, porque é plural.
De que maneira os blocos e os artistas podem colaborar com essa revitalização, já que muitos deles estão descendo mais um dia para a Barra?
Eu estou conversando com os artistas e os empresários. Eles têm consciência de que precisamos fazer alguma coisa para os dois circuitos, tanto o Osmar quanto o Batatinha. Agora, é como eu disse, temos que dar o glamour à avenida. Carnaval é business. Um dos captadores de patrocínio para o Carnaval disse que se envelopasse a avenida se gastaria apenas 500 mil. O que é isso para tornar o circuito bonito? Com painéis, totens, entre outras coisas? Tem a ideia de se construir um grande palco para apresentar shows de grandes artistas na Castro Alves. Enfim, criar motivações. Inclusive os artistas que desfilam em trios independentes como Carlinhos Brown, Daniela Mercury e Armandinho poderiam fazer um desfile na avenida e não só ficar na Barra.
Qual sua opinião sobre esse novo circuito, Mãe Hilda, que está sendo anunciado?
Acho que está existindo uma confusão. Pelo que fui informado, trata-se de uma homenagem, justa, a Mãe Hilda, do Ilê Aiyê, no Carnaval da Liberdade, que já existe há muito tempo. Porque não se cria um circuito assim facilmente, sem ouvir o governo, a Polícia Militar, o Conselho do Carnaval. E nós nunca fomos consultados a esse respeito. Mas, antes de se criar um novo circuito, vamos cuidar dos que existem. Inclusive o da Barra que tem que ser disciplinado para não implodir.
Quando falou sobre a avenida, você destacou o fato de o Camarote do Campo Grande ter acabado. O que você acha dos camarotes privados na festa?
Quero deixar bem claro que o camarote foi uma das melhores coisas que aconteceram no Carnaval de Salvador. Ele trouxe o glamour, trouxe de volta o folião que viajava e não queria mais brincar em blocos ou na pipoca. Sem contar que muito turista vem para a Bahia brincar e sai falando maravilhas. E tem mais: este ano os camarotes arrecadaram R$ 1,5 milhão para os cofres públicos. Cada um empregou cerca de 900 pessoas. Só a Sucom arrecadou para seus cofres R$ 2,3 milhões. Desse montante, só os camarotes contribuíram com R$ 1,2 milhão. Veja que são cerca de 30 camarotes.
Como você vê esse movimento por parte de alguns dirigentes de blocos querendo cobrar direito de arena dos camarotes?
Os camarotes dão orgulho. São fabulosos. Eu acho essa tentativa de cobrança ridícula. São pessoas que querem aparecer, ter seus 15 minutos de fama. Além do que os camarotes ficam no circuito Dodô (Barra/Ondina) e quem está cobrando é dono de bloco que desfila no Campo Grande , no Terreiro e Pelourinho. Isso não existe. É pura politicagem. E o Carnaval não pode ter coloração partidária. Tem que ser feito por profissionais. (A foto é de Evandro Veiga)
.