A informação foi divulgada por Alberto Pitta (@apitta73) , do Cortejo Afro, durante entrevista do #correiofolia2021 com Osmar Marrom Martins (@marromtv), colunista do CORREIO. Pitta falou ainda sobre a necessidade de preservação das tradições do Carnaval, fez uma análise sobre o impacto da pandemia nos blocos afro e também refletiu sobre o futuro do Carnaval.
Questionado sobre a essência do Ilê Aiyê, bloco afro exclusivamente negro, o artista plástico e criador do Cortejo Afro Alberto Pitta, 60 anos, não hesitou na resposta. “O Ilê Aiyê é único. Eu, Alberto Pitta, se fosse homem branco de olhos azuis, me contentaria de ver o Ilê passar. Não se pode querer mais do que isso”, afirmou, durante entrevista ao jornalista Osmar Marrom Martins, na tarde desta segunda-feira.
O assunto veio à tona durante um bate-papo entre os dois que foi transmitido ao vivo no Instagram do CORREIO, como parte do projeto Correio Folia em Casa. Pitta falou sobre o não-Carnaval desse ano, sobre a história, o tema do Cortejo Afro para 2022, arevelou novidades que estão por vir e conversou sobre a realidade de outros blocos, assim como o racismo que “é uma cicatriz, um câncer que precisa ser resolvido”.
“Quem não tem a capacidade de compreender a realidade do Ilê, chama fácil de ‘racismo reverso’. Não, é uma outra lógica. As pessoas deveriam parar de questionar isso. O branco que questiona isso não é um branco da Bahia. Que o Ilê seja sempre o bloco de representação da negrada. Que bom ver o Ilê passar. Ele é feito pra deleite e fruição do povo. O Ilê é responsável pelas cores da Bahia”, defendeu Pitta.
Artista responsável pela identidade visual do Cortejo Afro, e de outros blocos afros e afoxés, Pitta contou que seu bloco é movido pela inquietação e pelo desafio estético para o Carnaval. Suas fantasias, que sempre chamam atenção a cada desfile, buscam aliar beleza e crítica social. O tema de 2022 será Asas da Liberdade, revelou Pitta ao CORREIO.
“É sobre a importância de termos liberdade para ir e vir, literalmente, o que não está acontecendo para ninguém. Usar máscara não é ter liberdade. Ninguém se acostuma com ela”, explicou o artista, sobre a realidade que se vive hoje. Na segunda-feira, dia da semana que já virou o dia do tradicional ensaio do Cortejo Afro, Pitta revelou que está lidando bem com o fato de não ter Carnaval. Pior seria, em sua opinião, se a festa acontecesse. “Trabalhei em cima disso. A Bahia mais uma vez deu uma lição, porque é difícil não ter Carnaval de rua. Mas as pessoas respeitaram isso na terra da festa, do negócio da festa. Não teve. Nós demos uma lição na Lavagem do Bonfim, no Réveillon, na Festa de Iemanjá, no Carnaval. A Bahia entendeu, a Bahia venceu”, elogiou.
Pitta conversou, ainda, sobre o futuro do Carnaval, que será “uma corrida desenfreada atrás da fantasia, da coisa lúdica”; sobre sua passagem de 15 anos pelo Olodum, “de Paul Simon a Michael Jackson”; sobre a tradição dos blocos afros e afoxés de saírem de terreiros de candomblé – o Cortejo foi criado no Terreiro fundado por Mãe Santinha de Oyá, em Pirajá; e sobre a alfaiataria que compõe a estética do bloco.
Além de marcas como a marca Farm e o São Paulo Fashion Week, o bloco encanta um público diverso em seus ensaios semanais, além de artistas como a cantora islandesa Björk, Caetano Veloso, Gilberto Gil, BaianaSystem e Margareth Menezes. “Para fazer o Carnaval, tem que ser bancado pelos ensaios. A gente faz os ensaios pra uma classe média branca que paga e está tudo certo”, afirmou Pitta.
“Somos um público LGBTQIA+ e isso denota esse olhar do Cortejo Afro. Mas a diversidade não é só a questão LGBT… Está em todo lugar, no bairro do Pirajá, onde o bloco foi criado, com um show diferente por semana. Nossa ideia é receber bem as pessoas. É fazer o melhor, como diria Waly Salomão, o mel do melhor”, garantiu o artista, sobre o bloco que “está em construção sempre”.
Pitta revelou, ainda, que está prestes a estrear uma exposição com as obras pintadas durante a pandemia. A mostra Em Tempos de Cárcere, que tem curadoria de Vik Muniz, vai reunir 25 telas pintadas com uma técnica mista de serigrafia com pintura, onde os predominam cores como o ocre, marrom laranja, telha e ferrugem. “Aproveitei para fazer o que sempre quis fazer, pintar”, explicou o artista que segue com novidades.
Na próxima quarta-feira, Pitta vai assinar o cenário de “uma grande live” com artistas como Margareth Menezes, o próprio Cortejo, Daniela Mercury, Jauperi e Tatau que será realizada “em um lugar daqui da cidade”. “Não tem Carnaval, mas a gente está trabalhando. A ideia é não ficar parado”, justificou o artista “movido pela inquietação”.
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