Após seu retorno ao pais, A ELLE Brasil lançou sua primeira edição impressa , Entre as matérias publicadas, está uma reportagem especial sobre o Balé Folclórico da Bahia e a ameaça de sua existência pelas dificuldade financeiras. Leia abaixo um trecho da matéria. Vale a pena conferir.
O Real Resiste
Uma blitz obscurantista ameaça algumas das mais importantes e simbólicas instituições culturais do país. Mas há também resistência e renascimento
POR JOTABÊ MEDEIROS | FOTOS EDGAR AZEVEDO
Numa sexta-feira, 7 de agosto, o cantor Caetano Veloso, no meio de sua concorrida live, pediu doações para uma “vaquinha” do Balé Folclórico da Bahia, que passa por dificuldades. “Se vocês contribuírem, será o meu presente de aniversário”, afirmou Caetano. “Esse balé é uma coisa linda.” Em três dias, a ação, que só tinha conseguido arrecadar R$ 25 mil, saltou para R$ 160 mil. A maior parte dos que contribuíam mandava um recado-padrão no site das doações (mais de 2 mil mensagens foram registradas): “Caetano mandou, a gente atende!”
O balé começava ali a sair de um atoleiro. Tinha feito um empréstimo de 113 mil reais para pagar os salários de fevereiro a abril de bailarinos e funcionários (com 40 integrantes e 32 anos de existência, nunca teve um patrocinador) e estava com as apresentações, sua única fonte de renda, suspensas por causa da pandemia. “Caetano fez o maior gesto de solidariedade. Mostra que a gente tem capacidade de ser feliz, de entender o outro ser humano. Muitas vezes, não é de dinheiro que se trata. O mundo precisa disso, de afeto, as pessoas andam enlouquecidas. Ou é isso ou é Mad Max”, emociona-se Walson Botelho, o Vavá, diretor do Balé Folclórico da Bahia, ao comentar o fato.
O caso da mais antiga companhia folclórica do país parece conter um forte simbolismo do paradoxo em que se encontra a cultura brasileira nesse momento: mesmo inserida dentro de um ambiente econômico virtuoso (no ano passado, empregava 4,3 milhões de trabalhadores, mantinha 150 mil empresas em pleno funcionamento e gerava um lucro de R$ 202 milhões, segundo dados de abril do Itaú Cultural) e se constituindo em elemento-chave da imagem internacional do Brasil – criativa e diversa –, ela atravessa um processo acelerado de sucateamento e destruição de suas estruturas e seu legado.