O documentário “30 Dias – Um Carnaval entre a alegria e a desilusão” que será exibido a partir desta quarta-feira (2), às 18h45, até outubro, pelo canal Prime Box Brazil, (NET, Claro, Sky, Vivo e Oi) investiga o racismo e a intolerância que ameaçam a viabilidade da tradição popular de herança africana, em detrimento aos benefícios econômicos gerados pela festa conhecida mundialmente. Dirigido e roteirizado por Valmir Moratelli o filme acompanha os preparativos da agremiação Alegria da Zona Sul, formada por integrantes das comunidades Pavão, Pavãozinho e Cantagalo, em Copacabana, há um mês do Carnaval 2019.
Despejada do centro do Rio de Janeiro, a Alegria foi sublocada em terreno baldio próximo ao sambódromo sem a subvenção que custearia o enredo sobre 120 anos da Umbanda. “O galpão era precário e não tinha nada feito. Pensamos: ‘Não vai ter carnaval para a gente filmar essa escola!’. O desânimo existia assim como a garra dos componentes para tentar entrar na avenida”, lembra Moratelli.
Durante a concentração, em 1 de março, a Alegria enfrentou alagamento causado por forte chuva no Rio de Janeiro. Uma das cenas mais tocantes do registro de acordo com Valmir, jornalista com mais de uma década de cobertura do evento. “Havia o boato de que aquela noite seria cancelada. De repente, a coordenadora Camila Xavier reúne todas as senhoras da ala das baianas aos gritos 20 minutos antes do desfile. O discurso era reza uma Ave Maria e um Pai Nosso, solta um palavrão e entra na avenida”, conta o diretor. A escola foi a última colocada em pontuação, sendo rebaixada à Série B do Grupo de Acesso.
Os temas políticos aos quais a obra desconstrói para incentivar o debate incluem tentativa de doutrinação da ideologia neopentecostal sobre as manifestações negras, violência contra redutos de matriz africana no Rio de Janeiro, alocação de recursos destinados ao carnaval, descaso do poder público e deficiência de gestão comercial das escolas. A obra também evolui em recorte que trata sobre a transcendência e religiosidade do samba. Aborda a tradição das baianas enquanto matriarcas do gênero centenário e as batidas e paradas executadas pelas baterias nos desfiles que remetem aos Orixás.
Alguns dos entrevistados são Sergio Almeida (Presidente de honra e fundador da Alegria da Zona Sul), Marco Antônio Falleiros (Carnavalesco da Alegria da Zona Sul), Rodrigo Soares (Diretor da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio – LIERJ), Carolina Rocha Silva (Pesquisadora da Coordenadoria de Experiências religiosas africanas e afro-brasileiras, racismo e intolerância religiosa) e Luiz Antonio Simas (Escritor, professor e historiador).