Colaboração de
Rodrigo Lopes
Professor Mestre em História – Uneb/ SEC
Nestes tempos em que rir, de forma leve e desinteressada, tá cada vez mais difícil em um país onde nosso riso aprende, dia após dia, a ser sarcástico, tamanho os absurdos a que somos expostos por todos os lados, é saudável e imprescindível desviarmos do puro sarcasmo e rir de bobagens. Rir despretensiosamente, rir até desopilar o fígado (eu e minhas memórias malucas do interior, não sei o que significa desopilar o fígado, mas se é consequência de boas gargalhadas, não pode ser ruim!), é o que acontecerá quando for assistir As Noviças Rebeldes, espetáculo musical da Cia Baiana de Patifaria, que já é velho conhecido do público baiano, mas que mantém a vitalidade ao se reinventar e introduzir, a cada temporada, referências novas às diversas situações que pautam o cotidiano nacional.
No palco, os cinco patifes encarnam freirinhas bem despirocadas, que tentam enterrar suas irmãs, envenenadas e mortas por acidente por uma receita igualmente maluca da cozinheira do convento da Irmandade de Salue Marie, devidamente guardadas no freezer porque a Madre Superiora gastou o dinheiro do enterro para comprar um IPhone. Para angariar fundos, decidem fazer um show de talentos, em que a platéia se torna convidada especial, interagindo com as maluquices e os dramas de cada uma delas, em meio a números de balé, sapateado, musica e eventualmente, participações especiais de cantores baianos. Apesar da recomendação para maiores de 14 anos, o espetáculo é deliciosamente leve e non sense, portanto, não se furtem a levar seus filhos.
Em alguns momentos, a comédia cede lugar à crítica social e política, sem perder o tom jocoso, mostrando que a arte se compromete o tempo inteiro com o contexto social onde se produz e reproduz, e levando a plateia a risos espontâneos, alguns desconfortáveis, mas risos, entendidos e emitidos como deleite e auto-análise!
A Cia Baiana de Patifaria é jóia nossa e, mesmo depois de 30 anos de estrada (um feito imenso para uma companhia de teatro local), ainda consegue se manter viva e atuante nos palcos baianos, em que pese a crescente falta de patrocínio que o teatro local vivencia, outro motivo para prestigiar nossos atores e produções, veja as Noviças Rebeldes, faça um bem a si mesmo e ao teatro baiano. Depois de uma semana de trabalho, e de um sábado ou domingo descansado (e até mesmo cansado), vá conferir! Vá desopilar (depois de me perguntar de onde a cabeça dos meus mais velhos tirou isso, fui pesquisar. Trata-se de facilitar a digestão, desinchar, desobstruir, e isso pode ser metáfora para digerir toda essa bagunça que a política, a crise econômica solicitada, a
justiça nem sempre justa, com momentos de alegria e bom humor), vá rir com as irmãs de Salue Marie!
Seu fígado agradece e seu humor para enfrentar um nova semana, também!
Foto: Diney Araujo