Quem me conhece sabe que eu nunca morri de amores pelo chamado “sertanejo universitário”. Até porque sempre fui influenciado pela MPB, rock, reggae, forró, axé e samba, aí incluindo o pagode baiano. Mas desde que me tornei um jornalista “especializado” em cobrir a música baiana, sempre mantive e mantenho o maior respeito por todos os artistas de qualquer gênero. Sempre divulgando em minha coluna aos domingos no CORREIO no Blog diário e no programa de rádio Fuzuê, que apresento junto com Mauricio Habib na Bahia FM ao meio-dia de segunda a sexta.
Faço todo esse preâmbulo para externar o quanto eu fiquei perplexo com a dose de preconceito e desrespeito com o cantor e compositor Cristiano Araújo, morto precocemente. Evidentemente que nem todo mundo era obrigado a conhecer o trabalho do rapaz. E nem gostar. Mas dai querer menosprezar sua importância para um público de milhõess de fãs que compravam seus discos, frequentavam seus shows e curtiam seus vídeos nas redes sociais é não saber conviver com a diversidade.
Eu mesmo pouco conhecia o trabalho dele. Mas, claro que sabia de quem se tratava, do seu sucesso e de sua conexação com a música e os artistas baianos, principalmente da cena axé. Li comentários assim: “que absurdo a Globo dedicar tanto espaço a este cantor que eu nunca ouvi falar”. Ou quem é este “Cristiano Araújo?”.
Tudo bem ninguém é obrigado a acompanhar o noticiário da TV. Se estava incomodando, era muito simples mudar de canal. Agora, censurar que outras milhares ou milhões queiram saber sobre seu ídolo aí já são outros quinhentos. Isso me lembrou mais uma vez aquela frase do maestro soberano Tom Jobim que falou um dia: “No Brasil sucesso é ofensa pessoal”.
O sucesso de Cristiano, cujas letras, em sua maioria, falavam de baladas, azaração etc, atinge diretamente a uma juventude, principalmente, das chamadas classes AB e a nova classe C que emergiu do boom econômico vivido pelo Brasil nos últimos anos. Sem falar no padrão que ele representava: jovem, bonito, bem-sucedido entre outras coisas essenciais para o tipo de público que consome o sertanejo universitário.
A surpresa maior foi porque a imprensa baiana repercutiu com bastante ênfase, inclusive ouvi também muita crítica porque o CORREIO estampou a matéria na capa e publicou um pôster com a foto dele na contracapa. Também ouvi: “desde quando esse rapaz fazia sucesso na Bahia?”. Pois é, por preconceito em torcer o nariz para tudo que não é “cult” ou de “bom gosto”.
Eu, por exemplo, adoro Pablo, Tayrone Cigano, Kart Love, Asas Livres, Nara Costa. E daí? Então, o artista tem uma legião de fãs na Bahia enorme. Ele se apresentou este ano no Festival de Verão. No domingo, cantou na primeira edição do Forró do Rico Liso, em Camaçari, e na segunda, no Pelourinho. Também foi um dos destaques da folia em Santo Antônio de Jesus. Já fez dobradinha com Léo Santana, gravou com Mari Antunes, da Babado Novo. Enfim, os baianos também gostavam dele. E daí?
Artigo publicado na página 2 edição do CORREIO desta sexta-feira 26 de junho, que está nas bancas