Com a promulgação da lei que vai punir quem jogar lixo ou faze xixi nas ruas de Salvador, que começou a valer esta semana, me lembrei de um artigo que escrevi, quando estava estudando em Londres, e foi publicado na edição do CORREIO de 2 de agosto de 2010 comentando sobre uma reportagem feita pelo editor Sérgio Costa e o jornalista e radialista Emmerson José, que já falava numa futura lei que finalmente saiu. Para quem não leu ai está o artigo na integra. Quem faz mais xixi? Quando vi a manchete do Correio da edição do domingo, “Rua não é banheiro” imediatamente fui ler a matéria assinada por Sérgio Costa e Emmerson José. Afinal, fazer xixi na rua, em Salvador, tornou-se tão comum quanto comer um acarajé ou saborear uma lambreta. Sempre achei o ato pouco civilizado e, cá pra nós, é muito desagradável o cheiro de urina nas ruas, praças e avenidas. Mas que fazer nas grandes festas populares, principalmente no Carnaval, quando há gente demais e banheiro de menos? Além da manchete, o que mais me deixou curioso foi a coincidência do tema. Há um mês que estou em Londres e uma coisa me deixava intrigado. Eu vi poucos banheiros públicos. E, mesmo nesses poucos, você tem que colocar uma moedinha. E olhe que os ingleses são bons de copo. A moçada “encarca”, mas ai é outra história porque nos pubs, Underground (como eles chamam o metrô) e shoppings se encontram toilets. Recém chegado à Londres, certo dia, tive que segurar a onda ao sair da escola e torcer para que o ônibus (da linha 39) chegasse logo em Southfield Close, meu endereço na cidade. Sai em disparada, subi as escadas do apartamento e passei pelo corredor como um foguete. Os paulistas que dividem o apê comigo, assustados com a cena, perguntaram em coro: o que foi baiano? Eu só fiz apontar a porta do banheiro, entrar correndo e respirar aliviado. Abri esse parêntesis para dizer o seguinte: em tese, até concordo com a decisão do Prefeito João Henrique. Mas gostaria de saber como ele pretende solucionar tão complexa equação. Porque, se você está na rua na hora em que a coisa aperta, e não vê um banheiro público sequer, ai meu nego é como aquele velho ditado: não tem tu, vai tu mesmo. Gregório de Matos,o famoso Boca do Inferno, lá pelo Século XVII, já bradava contra “os mijões” da ruas da velha São Salvador. Tudo bem, não é politicamente correto, etc e tal. Mas atire a primeira pedra quem não apelou para uma árvore, um poste ou um beco, de preferência sem saída, mesmo sabendo que estava tomando uma atitude nem um pouco civilizada e em certas ocasiões, constrangedora. Multar quem desobedecer a nova Lei ou Resolução, seja lá o que for; penalizar o infrator com prestação de serviço a comunidade, assino embaixo. Pode até ser educativo e acho que será, desde que se cumpra com rigor, e a Lei não se transforme em mais um factóide. Contudo, isso só vai funcionar, em minha modestíssima opinião, se forem instalados muitos banheiros públicos. Quer gratuitos ou cobrando uma taxa simbólica para a manutenção do equipamento. Mas nada disso será eficaz se os banheiros não forem limpos e higienizados. Porque ninguém vai querer entrar num espaço sujo e fétido. A falta, no entanto, não justifica, de forma alguma, o ato de fazer xixi nas ruas. Daí a minha bendita dúvida: o baiano faz xixi demais, é mal educado e precisa de muitos e muitos banheiros e Leis para acabar com a fedentina em Salvador? Ou o londrino faz xixi de menos porque sabe se o fizer na rua vai parar no tribunal? Sem dó nem piedade. E se intimado e não comparecer, a policia vai em casa buscá-lo e levá-lo à Corte. Mesmo o acusado alegando que “foi apenas um xixi”.