Através de e-mail enviado para a redação do CORREIO, o presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB) Marcelo Cerqueira comenta a polêmica envolvendo a música “Quem banca é o viado” cantada por Robyssão e faz uma proposta de R$1 mil para quem compuser uma música em resposta à polêmica música.
Salvador, 16 de janeiro de 2015 – Do Grupo Gay da Bahia (GGB)
Por MARCELO CERQUEIRA, presidente do GGB.
O Grupo Gay da Bahia (GGB) se manifesta publicamente em relação a música de autoria do cantor Robissão, “Quem banca é o viado”. O GGB já tinha conhecimento do conteúdo musical, porém fez opção de não adotar nenhuma providência no sentido de proibir a execução da música, considerando que a mesma se manteria restrita nomeio social do cantor e dos shows sem, contudo, tomar uma projeção maior junto à sociedade. A música não tem ritmo, não tem produção, não possui sonoridade, além de uma percussão tímida que reproduz por duas vezes o barulho de uma sirene de polícia, na ideia de patrulhamento e censura de costumes e comportamentos sociais, mesmo não sendo crimes diante da Lei. O Cantor passa na produção a ideia de que tá mandado um recado e, como ele é um formador de opinião, não poderia negligenciar que a reprodução disso na sociedade gera ódio e violência.
O conteúdo da música pode gerar um grande problema além de um clichê, especialmente quando ele enumera os mimos que os gays podem dar aos boys ou bofes. Reproduz uma falsa ideia da troca de sexo por presentes, criando um estereotipo perigoso da pessoa que usa coisas novas em comunidades; sendo estas adquiridas ou de forma ilícita (proveniente de roubo) ou bancado por gays; defendendo a tese de que o individuo (o bofe ou boy) só teriam essas duas maneiras de conseguir produtos como boné, celular, camisa, tênis e outros mimos; estigmatizando, assim, as pessoas de forma desrespeitosa e caluniosa.
Na ideia do cantor frequentar a casa do viado é algo negativo, ou talvez, traga também a ideia de que o boy até pode se relacionar com o viado, mas às escondidas (marginal), não podendo, de hipótese alguma, ser visto. Reproduz a falsa ideia de que gays só se relacionam trocando sexo por bens de consumo e outras coisas. Onde fica o afeto, sentimentos, as relações de amizade e de amor sejam de que forma for desenvolvida ao longo dos anos?
Se um homem hetero ou uma mulher possui um relacionamento e faz qualquer ajuda ao seu parceiro, em tese isso seria natural. Mas a reprodução desse comportamento por gays seria obsceno no seu ponto de vista rasteiro que coloca quem dá e recebe em um comportamento criminoso. O rapaz seria delinquente por se relacionar e receber mimos de um outro criminoso.
Voltando a tese do recado, a música quer revelar algo trágico, uma possível vivência com ou em relação alguém que, possivelmente, recebia mimos. A tatuagem citada na música é reveladora disso, como se fosse algo muito especial e de valor sentimental. Tatuagem na criminologia vale como identidade de uma pessoa, quem seria esse homem, em quem cabe essa máscara?
O caminho só existe quando se passa por ele. Qual seria esse caminho trilhado pelo autor da música e o sentimento que ela apresenta pela entonação vocal? Seria um recalque? Estaria ele, o cantor, expressando uma situação real, experiência própria? Existem peculiaridades dando a ideia que ele bancava alguém do mesmo sexo ou ao contrário! O ambiente social facilita essas coisas e aquilo que chamamos de “pegação” acontece muito cedo entre jovens em comunidades ou fora delas. A questão aqui é que essas coisas podem deixar marcas profundas nas pessoas ao longo dos anos e hoje, ricos e adultos, o que eles poderiam querer mais? Continuar, dar um fim, processo judicial para partilha de bens?
Um caso notório foi Eliza Samúdio, atriz pornô, mulher do goleiro Bruno foi vitima dessas marcas. A relação de Bruno e Macarrão revelava isso que seria amor, e agora, o goleiro rico, queria outra coisa, mesmo que pesasse Macarrão possuir uma tatuagem com o seu nome no corpo.
Seria Robissão uma fraude e ainda estaria sofrendo por causa do fim de um amor bandido, interrompido de forma brusca e ressentida? Na letra existem indicações disso quando ameaça contar para o bonde “Vou contar para o bonde”. Bonde é grupo de extermínio que sai para matar os desafetos. Seria Robisão uma fraude considerando a misoginia revelada em suas canções e o tratamento desprezível as mulheres? Seria ele um egodistonico misógino?
Não acreditamos que uma proibição legal da execução da música seja algo eficiente; consideramos que esse é um debate no âmbito da cultura e da criação cultural. Mesmo censurada, a música poderá ser reproduzida nas comunidades.
Assim, a polêmica há que ser alimentada e combatida no campo do simbólico do comportamento e da cultura. Dessa forma, o GGB lança campanha com a recompensa de 1 mil reais para quem fizer uma canção respondendo a Robissão, a música “Quem banca é o viado”. Está lançado o desafio.