Artigo publicado na edição impressa do jornal CORREIO deste sábado (19) que está nas bancas.
Apesar dessas greves da Policia Militar não serem mais nenhuma surpresa, confesso que, pela primeira vez, desde aquela fatídica paralisação em 2001, quando entrou em cena o soldado Prisco – para mim um desconhecido -, eu vi e senti de perto os efeitos nefastos de uma greve desta magnitude. No início da noite de quarta-feira, depois de sair da redação do CORREIO em direção à minha residência, no Cabula, dei de cara com um corpo estendido no chão em frente ao quartel 19º BC. Uma multidão em volta a comentar: “Aqui ladrão não tem vez”. Procurei me informar: o morto tinha tentado se aproveitar do caos que tomou conta da cidade e foi assaltar um morador da área.
Saciada a curiosidade do jornalista, fui para casa já no mais completo baixo astral. Por mais que a gnte leia e veja na TV notícias de crimes é muito diferente quando você se depara com um corpo atingido por 10 balas, não importa qual o motivo. Eu já estava injuriado porque, desde que a greve estourou, eu não consegui sair de casa depois das 18h. No meu prédio, as pessoas fecharam as portas e janelas, apagaram as luzes. Era como se a gente estivesse preso dentro de nossa proporia residência. Nada funcionava. A padaria fechou cedo. O mercadinho idem. Os bares também e até a pastelaria foi vítima de assalto. Fiquei imaginando como, em pleno Século XXI, numa cidade como Salvador, a terceira capital do país, a gente ainda pode ser refém de uma situação como bem descreve a bela música cantada por Junior Marvin, Policia e Ladrões: “Polícia e ladrões nas ruas/Lutando pela nação com suas armas e munições/Polícia e ladrões nas ruas/Assustando a nação com suas armas e munição”.
E minha angústia aumentava, cada vez mais, quando recebia uma ligação ou uma mensagem via Facebook de amigos e parentes preocupados, querendo saber se eu já estava em casa. E os vizinhos me informando que estava rolando um tiroteio em Pernambués, um arrastão no Resgate, enfim só notícias pavorosas. E a imagem da Bahia que já não anda boa, ficou pior. O trade turístico reclamando com razão. Eu não me lembro, desde que me entendo como gente, de ter visto a tradicional Feira do Caxixis ser cancelada. A que ponto chegamos. Shows desmarcados, bares fechados, mercados arrombados. Não só pelos ladrões ‘profissionais’, mas pelos chamados ladrões de ocasião. Muita gente que recebe as benesses do Governo, tipo Bolsa Família, cidadãos acima de qualquer suspeita que foram flagrados roubando. Que horror! Agora que a greve, graças a Deus, acabou – com a intermediação do Arcebispo Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger – espero que os envolvidos, ao invés de ficarem acusando uns aos outros ou querendo jogar a culpa no partido adversário, pensem na população. Nessa história não há santos. E nem venham querer enganar a gente. A mim, pelo menos, não vão engrupir. Eu, que posso ser considerado classe média e tenho como me proteger, senti na pele os efeitos dessa paralização, imagine os mais humildes, que não têm como se defender e ficaram reféns de toda uma bandidagem? Nesses dias só me restou pedir a Deus que nos protegesse.
Osmar Martins é repórter especial e colunista do CORREIO e apresentador do Fuzuê na Bahia FM