Ir ao Sarau du Brown no Museu du Ritmo exige três requisitos: alma aberta para o novo, coração tranquilo para se divertir sem olhar para a hora e resistência para ter pique do início ao fim do espetáculo. Porque o Sarau não é só um show do Brown. Tem Carlinhos a maior parte do tempo, é verdade, mas tem muito mais.
1) Tem participações musicais de outros artistas, como a cantora Amanda Santiago e seu projeto Brasilady, música clássica, a banda Lateral Elétrica revisitando o repertório tradicional da festa de Momo e as percussionistas da banda Didá na melhor batida do samba reggae.
2) Tem arte. A participação do grupo Giramundo acrescentou uma nova linguagem ao espetáculo. Para o Sarau, o premiado grupo mineiro de teatro de bonecos criou uma marionete gigante de Brown, o Nasdaq, comandada por dois profissionais simulando um robô que circula pelo espaço antes do show começar e Orixás que surgem em participação da música Ashansu. De arrepiar.
3) Tem moda. Ontem, quem brilhou na passarela foi o estilista Jeferson Ribeiro. Em sua estreia no Sarau, o estilista baiano de alma sensível e pensamento conectado com as novas tecnologias, falou de saudade em tempos de redes sociais e “sobre a necessidade da presença do outro semter o outro, que existe virtualmente”, explica. Para tanto, buscou na obra de Riachão sua inspiração para criar roupas que fogem às formas reais do corpo. “Ele, que antes era o cronista da cidade, hoje canta a falta de sua Dalvinha”, diz Jeferson, que chama as cores das peças que foram mostradas ontem de “tons de saudade e lembrança”. A produção foi coordenada por Tininha Viana com beleza assinada por Ricardo Brandão.
Brown também mostrou que entende do assunto. Chegou de branco, com blazer, colete e calça, pra lá de elegante. Quando trocou de roupa, apareceu de regata e bermuda de paetê, arrematada com uma sandália gladiadora e um cocar metalizado, incrementado com lâmpadas de LED, dignos de sua performance eletrizante. Coisas da cabeça do artista e executadas pela estilista Valéria Kaveski, que também assina os looks das backing vocals.
4) Tem convidados. Ontem, o cacique recebeu o filho, Chico, que arrasou na guitarra, e o participante do The Voice Brasil 2 Marcos Lessa, que fez uma visita ao repertório de Dorival Caymmi. Teve ainda a presença afetuosa e sublime de Adriana Calcanhotto, que começou no violão e finalizou com a banda de Brown. Entre os hits que interpretou, ela cantou Esquadros e elogiou os arranjos que Saulo, o terceiro convidado da noite, fez na sua versão, lançada recentemente em seu primeiro trabalho solo. E quando Saulo chegou, não teve quem ficasse parado. Raiz de Todo Bem, uma das principais músicas desse Verão, foi cantada do começou ao fim pelo público que lotava o espaço. (Gabriela Cruz) Fotos de Alex Dantas