Eram exatamente 21h10 quando, sentado numa cadeira de rodas, o grande homenageado da noite, o compositor Paulinho Camafeu chegou, na noite de ontem, ao camarim montado atrás do palco no Terreiro de Jesus. O artista, que teve parte da perna direita amputada devido a problemas com o diabetes, foi recebido com carinho e palavras de incentivo. Sereno, ele agradeceu a todos: “Hoje é um dia muito especial”, disse, e seguiu para o palco onde a festa Uma Bênção para Paulinho Camafeu já rolava, desde as 18h30, com a Banda Conexão Negra fazendo a abertura.
Amigos, artistas e familiares se aglomeravam no backstage do show, produzido por Geraldo Badá e Mércio Silva, com coordenação de Flora Gil e com apoio da Schincariol, Instituto ACM e Rede Bahia. O evento, gratuito, teve como objetivo arrecadar dinheiro para ajudar Camafeu. O cachê dos artistas foi revertido para ele, que está passando por dificuldades financeiras depois dos graves problemas de saúde.
Artistas como Tote Gira, J. Velloso e Andréia Nery foram os primeiros a se apresentar. A Band’Aiyê, do bloco afro Ilê Aiyê, e os cantores Luiz Caldas, Armandinho e Gilberto Gil, até o fechamento desta edição ainda não tinham se apresentado. Gil e Luiz eram os artistas mais aguardados da festa. Luiz, por ter composto em parceria com Camafeu o sucesso Fricote, conhecida como Nega do Cabelo Duro, lançada em 1985, que é considerada o marco zero da cena axé. E Gil por ter gravado a emblemática Ilê Aiyê, em seu disco Refavela (1977), quando falava de um bloco negro que chegava para revolucionar o Carnaval de Salvador. Paulinho também é autor de outro hit, Cabelo Pixaim (Meu cabelo duro é assim/cabelo duro/cabelo pixaim) gravada pelo Chiclete.
O público atendeu ao chamado e compareceu em grande número ao Centro Histórico. Precisamente ao Terreiro de Jesus, totalmente iluminado e bem policiado. Enquanto a música rolava no palco, muita gente fazia a festa no famoso Bar do Cravinho, ou assistia à apresentação de capoeiristas que se exibiam para baianos e turistas. Também não faltaram as baianas com seus tabuleiros repletos dos saborosos quitutes e, claro, a cerveja. Principalmente a periguete vendida três unidades a R$ 5. Sem falar na pipoca e no churrasquino de gato. Para não dizer que não falei de flores, uma nota dissonante: mesmo com banheiros químicos, (podiam ter mais, é verdade), algumas pessoas insistiam em fazer xixi na rua. Lamentável.
Osmar Marrom Martins
Matéria publicada na edição impressa do CORREIO desta terça-feira (30) que está nas bancas.