Montreux, balneário localizado na chamada Suíça francesa, já me é familiar, porque há muito anos faço cobertura do seu famoso Festival de Jazz (hoje bastante misturado) com a participação de artistas da axé music. Assisti shows de Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Margareth Menezes, Asa de Águia, Timbalada, Terra Samba, Banda Mel, entre outros.
Mas, este ano, fui pela primeira vez a um evento alternativo, chamado Jam Session de Montreux. Um caldeirão cultural que envolve música, artes plásticas, culinária e, claro, um cortejo de baianas. Tudo muito bonito com os alpes ao fundo, o belo Lago Leman com suas águas tranquilas, a estátua de Fred Mercury, os queijos, os chocolates, os vinhos e os relógios. E organizado por uma baiana chamada Jô Queiroz.
Antes mesmo de embarcar, um fato me chamou atenção: Jô colocou uma nota nas redes sociais solicitando que as possíveis baianas que morassem na cidade, ou nas proximidades, entrassem em contato. Ela me confidenciou, depois, sua surpresa. Esperava, no máximo, dez. Apareceram mais de 40. Aí, fiquei a matutar: o que essas baianas viram em Montreux, um lugar caro, mas belo, frio e distante, para morar lá? É sabido que a Suíça é considerada um dos melhores países do mundo para se viver. Além de ser rico, ter sua própria moeda (o franco suíço) a sede da Cruz Vermelha, a fábica da Nestlé, os famosos bancos onde o sigilo é quase um dogma e, claro, a pontualidade, hoje a comunicação está facilitada. Apesar de se falar cinco idiomas (o suiço, o francês, o alemão, o italiano e o inglês) agora, pasmem, o português está em alta.
Tem muitos portugueses, que fugiram da crise em seu pais de origem e encontraram abrigo na terra dos alpes. E uma nova geração nascida no país fala fluentemente a língua de Camões. O que soa para os brasileiros e os baianos em especial como um bálsamo. Assim, pude constatar que, além das baianas que saíram vestidas a caráter no cortejo, em Montreux tem outros baianos se virando por lá. Seja como músicos, capoeiristas, dançarinos, ou fazendo os chamados serviços gerais. Enfim, sobrevivendo e levando o calor e o sotaque baianos para uma terra quase gelada.
Bem que eu queria gastar meu pouco conhecimento da língua inglesa, porque não sei falar francês. Mas nem precisei. No hotel e em algumas lojas, quando começava a falar, o recepcionista ou o vendedor logo me cortava: Falas português? E eu não podia me exibir (rs). Mas foi bom ouvir a nossa língua nos oitos dias em que passei por lá. E o melhor: comer uma feijoada baianíssima com todos os ingredientes possíveis: calabresa, carne de sertão, paio, feijão mulatinho… Que delicia. E mais: encontrei uma baiana de acarajé servindo seus bolinhos na festa. O preço eu achei exorbitante. Se você acha que Cira, Regina e a filha da saudosa Dinha cobram caro, cerca de R$ 6, imagine pagar FR 20 (pelo cambio do dia R$ 48). Mas, pelo visto, os suíços não estavam nem aí. E devoraram os quitutes, para felicidade da vendedora. Também o cheiro da frigideira era irresistível.
Osmar Marrom Martins
(Artigo publicado na pagina 2 da edição impressa do CORREIO deste sábado, 19 de outubro, que está nas bancas)