Fala Gabriela Cruz – Blog do Marrom

Fala Gabriela Cruz

Fala Gabriela Cruz

Faço questão de publicar no Blog o texto brilhantemente escrito pela jornalista Gabriela Cruz, na Guia do CORREIO, da edição desta sexta feira (19). Gabi como a chamam os amigos disse tudo o que eu penso e muita gente também sobre esse patrulhamento dos chamados “donos do bom gosto” que não respeitam nem o direito das pessoas ouvirem  o que elas querem. Sempre rotulando de cafona, brega, coisa horrorosa, visão do inferno etc etc. Como se  o profissional não pudesse gostar ao mesmo tempo de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ivete Sangalo, Harmonia do Samba, Pablo ou mesmo Beatles e Rolling Stones só para ficar nos mais conhecidos. Valeu Gabi. Mesmo de férias não poderia deixar de me meter na história.  Segue o texto:

Gabriela cruz

Sem rótulos

 

Na companhia de 50 mil pessoas, eu também “desci” no domingo passado para o Parque de Exposições para encarar a maratona da maior festa de camisa colorida do mundo. Consegui assistir a oito dos 12 shows do palco principal e ainda dei uma olhada no palco do pagode, onde a banda Play Way gravava DVD. Foi a quinta vez que fui ao Salvador Fest, apaixonada que sou pela quebradeira verdadeira. Gosto também de ver os bastidores, entender como a logística foi pensada para entreter o público e atender os artistas.

Mas não importa o quanto é oferecido em estrutura. Desde a primeira edição, há nove anos, ouço comentários infames e piadas maldosas a respeito da estética e do “nível” do público e das atrações. O primeiro evento a ter a “ousadia” de lançar uma campanha publicitária que colocava os bairros populares em destaque, em outdoors espalhados pela cidade. “Cajazeiras vai descer”, estampava o anúncio, para o terror de parte da sociedade, chocada também por ter o conceito das baladas para públicos selecionados – geralmente de camisa – usurpado por um evento popular, com uma programação formada por bandas de pagode, arrocha e funk.

Tantos anos depois, o preconceito ainda pipoca por aí, dessa vez propagado pelos indignados do Facebook. Nem a “ascensão” do arrocha, que virou universitário, nem a presença de nomes do primeiro time da axé music na lista de atrações – mais tolerados por nossa crítica especializada – amenizou as torcidas de nariz por gente que teima em rotular o que não precisa de classificação. Música é para divertir. Festa é para curtir. Acredito sinceramente que legal é justamente ser diferente e todo mundo temo direito de ir onde quiser, ver o show que bem entender, sem limitações de acesso.

Eu frequento de tudo e de boa. Amo Los Hermanos, Kid Abelha, Mariene de Castro, dou meus passinhos de sertanejo, fico histérica com Filipe Catto e sou apaixonada por Falcão, da Rapina. Se eu gosto de pagode e axé, o problema (?) é meu. Se fui ao Salvador Fest ver o Saiddy Bamba, Saulo, Timbalada ou Robyssão isso não deveria incomodar ninguém. O incrível é que as mesmas “mentes brilhantes” que defendem a democracia nas redes sociais, as usam para propagar o preconceito. (Gabiela Cruz é Editora do CORREIO)