Entrevista com a cantora Alcione publicada na edição impressa do CORREIO. A cantora se apresenta nesta quinta-feira (20) a partir das 21h no TCA.
Antes de pegar o telefone e ligar para Alcione eu pensei: como vou me referir a ela? Afinal, se hoje eu me chamo Marrom devo à própria que me colocou esse apelido, quando eu estava começando no jornalismo. Do outro lado da linha, assim que ela atendeu a chamada, fui logo dizendo: e aí Marrom, aqui quem fala é o seu genérico baiano.
De pronto, essa maranhense retada respondeu: que genérico que nada. Você será sempre O Marrom. Forever. Pronto. As portas estavam escancaradas para a entrevista, que se transformou num gostoso bate-papo.
Alcione Dias Nazareth, ou simplesmente Alcione, que no dia 21 de novembro completa 64 anos, saiu do Maranhão para o Rio, onde conquistou o Brasil com seu inconfundível vozeirão e simpatia. A cantora, compositora e instrumentista – ela toca trombone – é unanimidade.
Com 39 discos gravados, entre LPs e CDs, fora as compilações, shows no Brasil e exterior, Alcione comemora os 40 anos de carreira com o show que estreou no Rio e agora passa por Salvador, segunda cidade escolhida por ela. “Eu não poderia deixar de vir ver esse povo que me ama”, falou ao CORREIO.
Além do show, ela está lançando o CD/DVD Duas Faces, gravado durante uma jam session em sua casa, com a participação de Maria Bethânia, Emílio Santiago, Lenine e Martinho da Vila, entre outros.
Em dezembro, a cantora lança o Duas Faces 2, gravado na quadra da Escola de Samba Estação Primeira da Mangueira (sua grande paixão) com a presença de Lecy Brandão, Jorge Aragão, Diogo Nogueira e a bateria da Mangueira. Confira o bate-papo.
Marrom, como é comemorar 40 anos de carreira? E como é esse show?
Menino, passou tão rápido que eu nem senti. Eu estreei na casa de shows Vivo, no Rio de Janeiro. Foi um sucesso. E Salvador é a segunda cidade que estou visitando. Na verdade, faço um resumo de todos esses anos, mostrando um pouco dos dois CDs/DVDs que gravei e que estou lançando. Fiz uma miscelânea. De Salvador vou bater perna pelo Brasil, passando por Recife, Natal, Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, São Luís do Maranhão e por aí vai. Não foi à toa que estou indo logo para Salvador. Durante esses anos devo muito à Bahia, que sempre esteve presente em minha carreira.
Você antecipou a pergunta que eu ia fazer justamente sobre essa sua relação com os baianos. Como foi que isso aconteceu e como é esse ‘amor’ mútuo até hoje?
Meu primeiro sucesso veio da Bahia. Foi Não Deixe o Samba Morrer, da dupla Edson e Aluísio. Logo em seguida gravei Ilha de Maré, de Walmir Lima e Lupa. Meu primeiro produtor foi Roberto Santana, outro baiano retado. E todos os grandes compositores baianos me deram músicas como Nelson Rufino, Edil Pacheco, Tião Motorista, Batatinha. Por isso que eu digo: a Bahia deu um grande impulso na minha carreira. Meus grandes sucessos foram compostos por baianos. Eu não posso deixar de ir à Bahia, nunca.
Além dos sambistas, você também é queridinha dos Doces Bárbaros Caetano, Gil, Gal e Bethânia…
Na verdade, foram eles que se aproximaram de mim, apesar de eu já admirá-los. Foi Bethânia quem mandou avisar à gravadora que queria me entregar o disco de ouro que ganhei pela venda de cem mil cópias do LP Pra Que Chorar, também nome de uma música de Tom e Dito. Olha mais baianos aí. Depois disso ela me convidou para gravar O Seu Amor, de Chico Buarque. Foi no disco Álibi, aquele que ela vendeu um milhão de cópias. Nesse disco tinha Explode Coração, de Gonzaguinha. Me senti honrada. Aí, um por um, eles foram se aproximando. Gil foi o primeiro a me dar uma música, O Sonho Acabou. Depois ele mandou Entre a Sola e o Salto, que eu até regravei recentemente com ele. Também não posso me esquecer de Dona Canô…
E como foi o encontro na Estação Primeira da Mangueira, escola de samba do coração de todos vocês?
Foi emocionante. Quando a Mangueira homenageou eles, eu cuidei de tudo dos quatro na Escola. Ainda gravei com Caetano uma música exaltação à Mangueira.
A Bahia é conhecida, entre outras coisas, com a terra do axé. E você tem uma relação muito boa com artistas dessa cena musical. Você gosta de axé?
Eu gosto, porque toda música que é feita para alegrar eu adoro. E tenho admiração por muitos artistas. Eu amo Margareth Menezes. Toda vez que olho para ela eu vejo a Bahia, o Brasil. Também gosto muito de Ivete Sangalo, de Daniela Mercury. Mas você veja que eu também adoro artistas de minha geração como Djavan, Emílio Santiago e agora Lenine. Ah, ele entrou no meu disco a pedidos de minha família (risos).
Como assim?
Minha família é louca por Lenine. Eu também. Mas não tínhamos aproximação. Aí convidei, ele topou e hoje a gente se encontra bastante. Ele é um grande artista.
Você continua sendo uma referência para novas cantoras. Dessa geração que está aí, de quem você gosta?
Eu gosto muito de Maria Gadú. Quando eu a encontrei, disse a ela ‘essa voz não é desse corpo’. Porque ela é tão pequena mas tem um vozeirão. Meu pai também falava isso de mim. Tem Mart´nália, que além de cantar bem é uma ótima percussionista. E Ana Carolina, que também tem um vozeirão e toca um pandeiro como poucos. Eu tenho vontade de aprender a tocar que nem ela. Tem uma cantora que pouco toca no Brasil mas eu sou enlouquecida por ela: Rosa Passos. E é baiana também.
Para encerrar, seu último sucesso foi Meu Ébano, aquela do “negão de tirar o chapeu” (tema do ator Airton Graça na novela América, de Glória Perez). Como anda o negão?
Eu não posso deixar de cantar o negão. Todo show, as pessoas me pedem. Ela não pode sair do repertório. E agora eu a regravei com MV Bill fazendo o Ébano.
A foto é de Marcos Hermes