Com duas horas de duração, começou às 21h19 o primeiro show da turnê que vai percorrer o Brasil reunindo os irmãos Maria Bethânia e Caetano Velloso. A apresentação correspondeu completamente à expectativa das cerca de 13 mil pessoas, a maior parte jovem, que lotou a Fermasi Arena, localizada na Barra da Tijuca, e que vai ainda a algumas capitais do Brasil como Salvador, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, entre outras.
Para quem viu o primeiro encontro do dois há 46 anos no Teatro Santo Antônio, em Salvador, e no Canecão, no Rio de Janeiro, e esperava que eles abrissem com “Tudo de Novo”, não foi isso que aconteceu. Com um telão ao fundo mostrando imagens de Dona Canô, Nicinha e Irene, eles cantaram “Alegria Alegria”, marco do movimento tropicalista. Na sequência vieram “Os mais doces bárbaros”, “Gente”, “Oração ao tempo”, “Motriz”, “Milagre do Povo”, “Eu e água”, “A força que nunca seca” e “Um Índio”.
Como é natural nas grandes estreias, sempre há um percalço ali, outro acolá, mas nada que tirasse o brilho das canções e interpretações dos manos. Ainda entre as novidades, Caetano fez uma referência aos evangélicos: “O fato de virem crescendo enormemente no Brasil é uma coisa que tem imensa importância para mim”, disse. Em seguida, cantou o louvor “Deus Cuida de mim”, que gravou com o pastor Kleber Lucas.
Apesar do repertório ser composto especialmente por músicas de Caetano Veloso, teve também canções de outros compositores que fizeram parte do setlist. E a primeira delas foi justamente Filhos de Gandhi. “Isso é Gil”, comentou Caetano sobre seu grande irmão que a vida lhe deu. Numa bela interpretação com o telão exibindo imagens de Gil e do mais famoso afoxé do Brasil, desfilando pelas ruas de Salvador.
O show teve momentos em que os artistas fizeram números solos. O primeiro foi Caetano, que cantou “Sozinho”, composição de Peninha que ele ajudou a popularizar, e “Você não me ensinou a te esquecer”, de Fernando Mendes. Bethânia, por sua vez, cantou Guilherme Arantes, “Brincar de Viver”; Roberto e Erasmo Carlos, “As canções que você fez pra mim”; Adelino Moreira, com “Negue”; “Vida”, de Chico Buarque, uma paixão declarada de Bethânia com quem fez show e gravou um disco juntos; e “Explode Coração” de Gonzaguinha.
De novo juntos, no palco, outro homenageado foi Raul Seixas, que em 2025 completaria 80 anos. A escolhida foi “Gita”. Conversando com algumas pessoas na plateia na Pista Premium, mais próxima ao palco, o que surpreendia, além da quantidade de jovens, era que todos sabiam cantar o repertório inteiro. O auge foi quando eles apresentaram a versão de “Fé”, da cantora Iza. Aí foram os mais velhos que não conheciam.
Claro que não poderia faltar um bloco em homenagem à escola de samba Estação Primeira da Mangueira, que já homenageou os Doces Bárbaros e Bethânia, individualmente, com o enredo “Maria Bethânia – a menina dos olhos de Oyá”. Foi o 18° título da escola, que encerrou um jejum de 14 anos. Eles cantaram as belas “Sei Lá Mangueira”, “Maria Bethânia a Menina de Oyá” e “Onde o Rio é mais Baiano”.
É claro que a saudosa Gal Costa, a eterna doce e bárbara, teria que ser lembrada e homenageada. Assim como na canção de Gil, imagens da artista apareceram no telão e eles cantaram “Baby” e “Vaca profana”. Essa música teve uma gravação inesquecível de Gracinha ou Gaúcha, como Gil chamava carinhosamente a amiga, que o chamava de Jiló.
Já em clima de festa total, o show terminou com “Reconvexo”, “Tudo de Novo” e “Odara”. Foi muito bonita a participação de toda a banda, depois que Caetano e Bethânia saíram do palco, continuando com todo suingue baiano. Número aprovadíssimo pela plateia. Por sinal, a banda foi um capítulo à parte. Com direção musical conjunta de Jorge Helder (Bethânia) e Lucas Nunes (Caetano), vale ressaltar as presenças de Pretinho da Serrina e Kainã do Jêje. É um show que você não pode perder.
Foto: Arthur Lima