Desde o último domingo não se fala em outra coisa nos noticiários esportivos a não ser as dedadas que o zagueiro Rodrigo, da Ponte Preta, deu no atacante Tréllez, do Vitória, durante o triunfo do Leão sobre o time paulista. O lance ocorreu aos 19 minutos do primeiro tempo, quando a Ponte Preta vencia o jogo por 2×0. Rodrigo foi expulso após “introduzir duas vezes seu dedo médio entre as nádegas” do jogador do Vitória”.

Além da atitude considerada antidesportiva o que mais me chamou a atenção é o medo que, especialmente os heteros, estão tendo em abordar o assunto. Eu já vi notícias relacionadas a agressões em estádios por jogadores – cabeçadas de Zidane, mordidas de Tevez, etc – mas nenhuma veio acompanhada de tanto medo de fala.

Aos meus ouvidos os comentários chegaram sempre acompanhados de um ‘lá ele’. No rádio ouvi um cronista esportivo dizer que ‘Rodrigo fez aquilo que os viados fazem’. Ora, nobre cronista. Acho que tu anda um pouco desinformado. Não vejo gays dando dedada no colega de trabalho assim…

O que acho interessante é que muitos sequer conseguem falar a palavra bunda. A heterossexualidade é tão frágil em alguns que sequer eles conseguem dizer que o jogador botou o dedo na bunda do outro. Gente, falar BUNDA não dói! Pelo que vi do vídeo até o Tréllez, que recebeu as dedadas, não deve ter sentido dor. Melhor do que isso: depois da dedada Tréllez fez foi dois gols que garantiram o triunfo do Vitória.

Falar não vai fazer você ser menos hetero ou, como outro ser (sem) luz disse: ‘botar o dedo no lá ele não pode senão pode gostar’. Criatura, não tenha medo da sua sexualidade. Apenas viva sua vida.

E ainda tem um molho nessa história: o time de Rodrigo acabou sendo rebaixado pela derrota. E de quem é a culpa? Do dedo de Rodrigo – pelo menos foi assim que os torcedores e muitos jornalistas esportivos disseram. Um jornal até colocou a frase ‘O dedo colocou a Ponte no buraco’.

Ora, pelo que vi da tabela do Campeonato Brasileiro a Ponte Preta perdeu, além do jogo para o Vitória, outras 17 partidas. Em nenhuma delas teve dedo na bunda. Ou seja, a culpa não é do dedo.

Reflexos de falas como essas corroboram com o machismo no futebol. A necessidade masculina de colocar o futebol como algo apenas hetero é irritante e desnecessária.

Os gritos de ‘juiz viado’, que ‘viadagem é essa’….(coloque aqui tudo que você já ouviu na vida) …. são tão opressivos que afugentam muitos gays do esporte.

O futebol é um dos campos onde o preconceito sexual está mais enraizado culturalmente no nosso país. Acham que viado não joga bem futebol. Ledo engano. Eu mesmo quando era criança era artilheiro do time infantil da escola. Sim, ganhei até campeonato. Mas, migrei para o baleado pois achava mais divertido (isso é assunto para outro post).

Para quebrar essa lógica machista e preconceituosa, aconteceu no Rio de Janeiro, em novembro, a 1ª edição do campeonato brasileiro de futebol gay: a Champions LiGay.

O campeonato teve oito times gays de seis cidades do país, todos militantes da inclusão LGBT no futebol. Participaram as equipes BeesCats e Alligaytors (Rio de Janeiro), Futeboys e Unicorns (São Paulo), Bharbixas (Belo Horizonte), Bravus (Brasília), Magia (Porto Alegre) e Sereyos (Florianópolis).

Os Bharbixas ganharam. E, ao contrário do que você possa imaginar, não teve nenhuma dedada em campo registrada na súmula. Parece que isso é coisa de hetero, hein!

Edit = Um detalhe: esse texto não é sobre o ato da dedada e sim sobre a forma com ele foi noticiado. Obviamente, não concordamos com nenhuma violência!

28 de novembro de 2017

Precisamos falar sobre futebol: por que uma ‘dedada’ assusta tanto os heteros?

Desde o último domingo não se fala em outra coisa nos noticiários esportivos a não ser as dedadas que o zagueiro Rodrigo, da Ponte Preta, deu […]